poema sem espaço ou tempo: MÃE





-dainuoja inga jankauskait




de onde escrevo     reservam-se as cores
as indefinidas cores que fazem o teu jardim
onde as árvores e os pássaros trocam odores
e o sol deixa um calmo rasto do teu perfume

mãe
*

é por isso que te colho as rosas
e deixo-as pousadas no teu colo à espera
do sopro do vento
que me concebeu em terra
vida ou
cinza aberta em tarde cristalina
*

a água que verte das tuas mãos em concha
enche pomares de sorrisos serenos e
reveste
os rostos crispados
dos trabalhadores que não pudeste
cantar

mãe
*

a voz atraiçoou o canto dos pardais
e o melro voou quando saiu de ti
em soluço
solidário

era primavera
e tu querias
mas não ousavas

porque era amarga a palavra que vaticinava
o medo das memórias que escondiam
o sinal do teu corpo cansado
*

agora      mãe
sublevo-me em ti