Arquitectura Revisitada




À gabriela rocha martins

...............No céu
uma intempérie
como só a intempérie do amor.

Pela arquitectura da carne
a sua cicatriz era a taifa acesa
o inaudível.

Porém para me mostrar a flor
ouso pensar que o fogo de I´timad
apazigua o Sul:

- Não existes
Silves lá no remanso do rio
sem as vestes escravas do sagrado.

Diria que era I´timad
a indivisível luz
e que é o verbo primordial da aurora.

Consigo o desabrochar da sílaba
ciclos do alfabeto do tempo
cativos do alaúde:

- Incandescente, tão incandescente
como a melancolia do sémen
que outrora era lágrima
a chuva de Primavera aberta ao cio
de eternidade em eternidade
como um denso aroma, suave corpo.



João Rasteiro
8 de Maio de 2010


deliberada mente







miro al vagabundo desde el otro lado de la calle y
siento pena
no tanto de él
como de mí
sentado en el suelo posee la nada absoluta y yo?
¿me reservo a la servidumbre de todo
miro a la gitana desde el otro lado del paseo
envidio las palabras con que teje
sobre las manos ilusiones y
yo?
presa del presente en el que nada se complace
en el absurdo de las intenciones
la cabeza me reserva la duda
la fatiga de las historias recreadas
repetidas
nadie tiene el derecho a ser
mísero impío hecho de los dioses
señora
que corra el vino!
déjalo correr
alguien pregunta
por qué?

el borracho bebe
en la soledad de sí mismo
si le da la gana o quizás no
por qué no?

el vagabundo me mira
extiendo la mano que la gitana me llenó de trozos
le dejo una sonrisa
preso en la inmensidad de una mirada
profunda
que no oso
no sé pegar los trozos que la gitana
forjó

el no es una palabra proscrita
en el sí de una vida
sin designios
me persiguen los fantasmas de la escritura
la maledicencia transfiere el golpe mortal
lloro por el animal herido
me río del puntapié dado a un hermano
de raza
me alimento de huesos
de pieles que devoro
como la predadora inmersa
en oraciones de bien querer

no oso a nadie

prefiero el salto del vagabundo que
me extiende la mano para que lo siga
al encuentro oculto con la gitana
soy
zapato
gato
ratón

la ínfima parcela de un llanto
que no lloro
de una carcajada
que no doy

me pongo la cabeza entre las manos
la aprieto
no me detengo ante anda
nada oigo

prefiero la algazara del demonio
donde encuentro el absurdo de no ser
en perfección

en tristeza

maté a la gitana,
maté al vagabundo
no me dí cuenta de que lo hacía
era a mí a quien mataba
quedé reducida a nada
feliz
en el espacio que rodea
el estar en mitad del conflicto

dejen que entregue mis locas
fantasías donde bebo
(y por qué no? )
los néctares que me aprouver
dejadme
ser
la ausencia
la verdad
falsa del trío que he dibujado
el vagabundo
la gitana y yo
tres marginales

estoy tan cansada de comportarme bien

valoro el hoy
el mañana lo destruyo
la solapamiento de comportamientos y
de actitudes
como manda la santa madre iglesia
los ángeles
los arcángeles
los santos
los demonios
el rey y
el señor

me comporto muy bien
con respecto al color
el absurdo
la redundancia y
todo empieza a tener sentido

me ausento en el cansancio

miro al otro lado de la acera
no veo al vagabundo
lo habré soñado?
la gitana despareció
la habré imaginado?
no me vuelvo a ver
estaré despierta?

es necesario que alguien vigile
los extraterrestres acaban de ocupar
el centro de la avenida
tienen ojos redondos
redonda la nariz
orejas redondas
barriga redonda
la boca
afilada
ah! tienen dos lenguas
bífidas
como las culebras que se ven por las carreteras
cabezas erguidas en la muerte

las sillas
aplomadas
continúan esperando que comience el espectáculo
los actores no aparecen

[ alguien ha cambiado los papeles ]

se apagan los focos

deliberada
................ mente


tradução de Manuel Moya



*****


olho o vagabundo do outro lado da rua e
tenho pena
não dele
mas de mim
sentado no chão tem o absoluto do nada e
eu?
reservo.me na serventia de tudo

olho a cigana do outro lado do passeio
invejo as palavras com que tece
nas mãos
ilusões e
eu?
presa ao presente em que o nada se compraz
no absurdo das intenções

a cabeça reserva.me a dúvida
o cansaço das estórias recriadas
repisadas
ninguém tem o direito de ser
míseros ímpios feitos em deuses

senhora
o vinho corre!
deixá.lo correr
alguém pergunta
porquê?

o bêbado bebe
na solidão de si
se for o caso
ou talvez não e
porque não?

o vagabundo olha.me
estendo a mão a que a cigana revestiu de cacos
deixo.lhe um sorriso
preso à imensidão de um olhar
profundo
que não ouso

não sei colar os cacos que a cigana
forjou

o não é a palavra proscrita
no sim de uma vida
sem desígnio
perseguem.me os fantasmas da escrita
a maledicência transfere o golpe mortal
choro o animal ferido
rio.me do pontapé dado a um irmão
de raça
alimento.me de ossos
de peles que devoro
como a predadora imersa
em ladaínhas de bem querer

não ouso ninguém

prefiro o salto do vagabundo que
me estende a mão para segui.lo
ao encontro oculto da cigana
sou
sapato
gato
rato
a ínfima parcela de um choro
que não choro
de uma gargalhada
que não dou

coloco a cabeça entre mãos
aperto.a
não me detenho em nada
não ouço nada

prefiro a algazarra do demónio
onde encontro o absurdo do não ser
em perfeição

não magoa

matei a cigana
matei o vagabundo e
não percebi que ao fazê.lo
me matava a mim
fiquei reduzida ao nada
feliz
no espaço que circunda
o estar no meio do conflito

deixem.me entregue às minhas loucas
fantasias onde bebo
( e porque não? )
os néctares que me aprouver
deixem.me
ser
a ausência
a verdade
falsa do trio que desenhei
o vagabundo
a cigana e eu
três marginais

estou tão cansada de ser bem comportada

valorizo hoje
amanhã destruo
a sobreposição de comportamentos e
de atitudes

como manda a santa madre igreja
os anjos
os arcanjos
os santos
os demónios
el.rei e
senhor

sou muito bem comportada
respeito a cor
o absurdo
a redundância
tudo começa a fazer sentido

ausento.me em cansaço

olho o outro lado da rua
não vejo o vagabundo
terei sonhado?
a cigana sumiu
terei efabulado?
não me revejo
estarei acordada?

é necessário que alguém vigie
os extra.terrestres acabam de ocupar
o centro da avenida
têm olhos redondos
nariz redondo
orelhas redondas
barriga redonda
a boca
é afiada
ah! têm duas línguas
bífidas
como as serpentes que procuram a estrada
cabeças erguidas na morte
as cadeiras
aprumadas
continuam à espera que o espectáculo comece
os actores não comparecem

[ alguém inverteu os papéis ]

apagam.se os projectores

deliberada
................ mente


Revista "Cuadernos Telira", Burgos ,Primavera/Verão 2010



antologia da indiferença






-sulscrito nº 3


trinta dinheiros

faço parte de um todo
que não escreve em vão
talvez seja a única certeza que tenho
sou o verso de um poema convocado
pela tentação dos deuses
a um encontro final
a outra parte submerge
algures no universo das folhas caducas
onde cada um de nós é a pata de uma aranha secular
fazendo da palavra a teia
onde se inserem as constelações/poemas
as páginas/sonhos
as armas/revoluções
os cães democratas e
o riso aberto das noites
capazes de passar incólumes
à memória absurda dos especialistas
de portas escancaradas à compra

trinta dinheiros - é comprar!

vomito

somos
-os alquimistas que se ousam
em pontos finais e vírgulas
em lombadas de livros
em palavras e páginas azuis e

cujas gargalhadas não constam de acordos

-crianças velhas que
exigem palavras novas ou
loucos insurrectos prenhes de poemas virgens

revista sulscrito ,nº 3

nota prévia . o andaime de "as fronteiras da imagem"




deixaste sobre a minha secretária uma nota
não assinada –

des necessária

- não responderei à chuva
… sim!
há uma chuva irritante que cai dentro das palavras
fá.las escorrer e a folha
inicial
mente
colorida com caracteres uniformes
re toma a virgindade inicial
a fim de se desnudar aos vagamundos
aos dissidentes
às prostitutas e
aos marginais in tolerados

( sabes que os prefiro aos seres perfeitos
re vestidos de tristes memórias e palavras idênticas
)

transgressores dos ritos escrevem
com os corpos textos proibidos
e sangram cidades
bairros e subúrbios

há uma sintonia perfeita entre eles e
os ponteiros do relógio

são demiurgos


revista sulscrito ,nº3.


contra senso







.........................................................................dizem que os poetas

descem as escadas argênteas e sabem.se a par e passo
com os astros que gravitam
na placidez do afago de uma mão
.........................................................................dizem que
se movem em passos uniformes ditados pela lei da gravidade
como as estrelas cujas constelações se igualam no brilho e
se atraem na dança cúmplice do verbo
quais formigas que estabelecem comunicações
utilizando as antenas para conspirar

são pequenas partículas de um campo minado
onde as deusas e os demiurgos gostam de copular

ninguém se divide por zero -
afirmam os matemáticos
- quem sou eu para os desmentir?
um argopoeta que entra na dança para contradizer
os deuses
um contra senso
um arrepio exponencial que
tange a harpa de Thales

em silentes acordes
concebidos a um ritmo incerto e numa só dimensão