não é por estar em Roma que serei romana.......





Instrumentos em Lisboa



( desculpa ,Ruy ,mas necessito das tuas palavras para conseguir respirar ... tal como tu ,não consigo vislumbrar uma outra maneira de estar na ou ver a POIESIS ,sem ser resistindo .há quem goste de forçar os outros a "engolir sapos" ( diziam-me há dias ) a bem do imediatismo ,do protagonismo e da subserviência a Roma .hoje ,ao ler-te ,identifiquei-me ,de tal modo ,com as tuas palavras que precisei de transcrevê-las ,a fim de vir à tona de água sem falecer por asfixia .não estou à venda "por trinta dinheiros" ( escrevi ,não há muito tempo ,num poema ) e ,se ,apesar de nunca estar dividida ,entre o engolir sapos a bem de causa nenhuma e o persistir um caminho doloroso ,paciente e solitário - porque a escrita é um acto solitário - as tuas palavras foram o leit-motiv que me faltava para o salto final .obrigada ,"irmão" ........ porque não será por estar em Roma que serei romana ........ )






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Lembrando A Capital, de Eça de Queirós, sublinhei a sua actualidade como crónica do meio literário português do nosso tempo, onde pontificam Romas e mais Romas que vão obrigando tantos Curvelos à desistência. No momento em que vivemos, a vitalidade artística precisa contudo de quem lhes resista e vá persistindo num caminho doloroso e paciente, contra-cultural. Explicando o significado do título Instrumentos de Sopro (expressão de matérias e anti-matérias que insuflam/insuflaram vida na existência), manifestei a minha convicção na existência de dois campeonatos, inconciliáveis, na produção artística contemporânea: de um lado, o campeonato da notoriedade pública; do outro, aquele que é jogado por quantos tentam servir a Arte, humildemente (isto é, ligados à húmus, à fertilidade), sem esperarem prebendas nem passeios pagos.
Questionou-se a estética contemporânea, sobretudo o seu anacronismo e sua miopia histórica, que todos os dias afirma inventar a roda, quando ela já foi inventada há tantos milénios. Abordou-se ainda a importância da poesia experimental e do seu contributo para o refrescamento da poesia portuguesa - que tanto necessita de ser posta em causa, ou seja, que tanto precisa da incerteza, para não continuar a fazer a tal roda quadrada. (... )

Ruy Ventura ,in Ruy Ventura