Ode para Mário Curvello

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.....................................................................Para ti, Gabriela


Não, Mário, não escrevo epicédio
porque para mim tu não morreste
escrevo ode para cantar
tua memória
da forma mais solene e mais sublime que eu souber
Nem Píndaro, Alceu ou Safo
ou Esculápio e Horácio
te cantariam melhor
pois nunca morrerás enquanto eu viver
meu deserdado da sorte e da vida
e agora deserdado do Ser
Estou cada vez
mais órfão do mundo
e agora sem ti
meu mestre paulistano
com quem falarei sobre os segredos
da portuguesa língua?
Do nosso amor comum?
Após uma conferência minha
um universitário brasiliero
contou-me do sucedido
estivera no teu velório
O quê? Tu morreste, Mário?
Assim, sem me dizer nada?
O teu blogue provou
à saciedade
não sei se a alguma sociedade
que terás uma quota-parte
de eternidade no meu coração
meu irmão longínquo das terras do café
do ABC paulista e do baião de dois
feijão com arroz arroz com feijão
meu especialista de Seu Machadão
E com quem estarão teus filhos
berlinenses ou outros?
com suas mães certamente
Tempus fugit e nós
ficamos por aqui e para aqui
aparvalhados
Recordo tua sorte
junto das mullheres jovens
com teu charme malicioso
teu ar sereno e bondoso
tua sabedoria, meu mestre!
Gostavas do Alentejo das rendas
meu paulista baiano!
Lamento o bacalhu prometido
que nunca chegou ao prato
Puxa a vida, Mário,
telefonei-te e já ninguém responde
Se ao menos tivesses sido
presidente do teu País
(tal como teu aluno Lula)
O mundo mudaria espantado
contigo aos microfones
das Nações Desunidas
Mas, pronto, Mário, foste
embora sem me dizer nada, bicho.
E agora que já és cinza
e a vida uma foda com PH
a que porto aportarão
nossas conversas infinitas?
O amor da minha vida
que traí e não traí
estás a ver, Mário,
o conceito de realismo
o que é ficção ou realidade
o amor da minha vida,
dizia-te, tornou-se inatingível
na Lisboa que tu amavas.
E quando te morreu
aquele filho no Rio?
E eu sem saber
como te consolar, meu irmão?
Já lá vão nao sei quantos
dias do teu passamento
e eu aqui ando sem ti
só contigo em pensamento
meu director de campanhas
viagens, comícios, encontros
quilometragem, cidades,
e agora, onde estamos agora, Mário?

Luciano Caetano da Rosa
( Colónia, 19 de Fevereiro de 2011 )