recensão de José Luís Outono a "as luvas de um aprendiz (in)conformista"




 
 
 
 
 
li o teu livro, como apetite sedutor de um testemunho...que vive a escrita.
Li, e senti já alguns comentários, por exemplo, o do António Ganhão, numa recensão, onde te acusa de "sublime"...e aplaudo.
Por isso não resisti...e, com a devida vénia ( entende-o como respeito e admiração de um inconformista...também), copio o meu comentário ao trabalho do "Toninho", como carinhosamente apelidas, mas homem ecléctico, que também admiro, na sua lavra de escritor:

…”roubaste-me as palavras”…que queria tecer em comentário. Um livro fascinante, inquietante e amante…de quem ousa o amanhã, com a coragem d’hoje!
Gostei do que escreveste da nossa amiga…aliás “só o poderias fazer” na justeza de uma alma criativa, como a Gabriela Rocha Martins."

Escusado será dizer, que espero mais inquietudes e inconformismos, da tua pena informal e directa!
Beijinho à amiga...que um dia me disse ( em Silves...lembras-te? ): gosto do que escreves e da forma como o apuras...

É este inconformismo, com o gostar pessoal, que admiro em ti. O constante apurar de uma insatisfação sempre inquietante , porque louca de lógica!
José Luís Outono ,in facebook



recensão de António Ganhão a "as luvas de um aprendiz (in)conformista




as luvas de um aprendiz (in)conformista, de Gabriela Rocha Martins
Publicado em 23/12/2012 ,por antonio ganhão

O poema nasce nas páginas deste livro como um ato de insubordinação. É a resposta a essa “fome de escrever”, a esses “caudais de lava que escorrem sobre as barrigas de textos prontos à desova” dando corpo ao sentido de mortalha com que o papel acolhe o texto.

-o funeral dos sonhos
 a ambiguidade
 adensa.se e nos rostos
 avulsos
 há um resfolegar
 quebrado
 que
 se insinua
 na memória das folhas
 .se
 ao menos fosse possível
 reciclar a página
 retocar a maquilhagem                     ou
 avançar para dentro de um tempo novo?

O poema explora a esquadria improvável da página, roubando-lhe a pontuação, fugindo-lhe à sua forma clássica. O espaço de um parágrafo surge a meio de uma linha, servindo-lhe de quebra ao verso. As frases terminam num ponto final para que a frase seguinte comece a partir desse ponto, arrastando-o consigo para o seu início. O poema cola-se à página de uma forma plástica, como se fosse a obra artesanal de um pintor. Depositado em camadas, escrito com uma espátula, sofrendo um processo de desconstrução, de recorte e colagem. Uma impressão visual que não se dissocia da sua leitura, que nos provoca e desafia.

à revelia dos mortais
sangra o verbo

e um deus louco e quase cego
detém-se mastigando um resto de absoluto

Não ouso esquadrinhar em extensão o dizer do poeta, detenho-me à porta do seu indizível. Encontro neste livro o inconformismo e o convite à aprendizagem, à sua errância nas nossas vidas. Entre o zangado e o irónico, sempre provocadora, Gabriela Rocha Martins, deixa-nos uma reflexão, um olhar lento e penetrante sobre o significado das coisas insignificantes, sem nunca lhes conferir um registo definitivo, evitando assim o risco de se transformar numa lagartixa.

hoje acordei poeta
.coloquei entre as minhas mãos milhares de caracteres e
 misturei.os à revelia do verbo
 .triturei

Vivemos tempos que não são mais do que um acrescento esconso aos sonhos que nos roubaram. Inventámos palavras novas para este tempo, palavras redutoras, sem métrica nem salvação. Palavras de claudicar e (no meu entender) obscenas.

O que nos resta? Ao poeta, sempre o seu caminho.

.amanhã serei um vagamundo
 .percorrerei novos poemas
 

**********
***
 

Uma Resposta a "as luvas de um aprendiz (in)conformista", de Gabriela Rocha Martins

José Luís Outono diz:
 24/12/2012 ás 16:45

…”roubaste-me as palavras”…que queria tecer em comentário. Um livro fascinante, inquietante e amante…de quem ousa o amanhã, com a coragem d’hoje!
 Gostei do que escreveste da nossa amiga…aliás “só o poderias fazer” na justeza de uma alma criativa, como a Gabriela Rocha Martins.


António Ganhão ,in um dia serei apenas este verso que vos deixo






a poesia de gabriela rocha martins





as prometidas imagens que faltavam


ao falar de lançamentos ,vamos a apresentações......





os responsáveis por tudo o que aconteceu


Marta Vargas ,apanhada de surpresa


construindo e desconstruindo........


Maria das Dores de Góes ,uma escritora em construção


antes de tudo o mais


poetas em construção


obrigada Maria Lúcia pelos seus apontamentos.....




ainda há quem se espante!



O Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Silves ,Jorge Manuel Silva
,entrando no jogo
( e antes do uso da palavra )


obrigada António Ganhão por esta tua reportagem......




o vice.presidente da Câmara Municipal de Silves ,Dr. Rogério Pinto ,caçado a laço
( e antes do uso da palavra )



dois eus poéticos - Paulo Pires ( construindo a apresentação )



gabriela rocha martins ( desconstruindo )


 



e se o convite foi informal ,então a apresentação.......nem vos digo!
as primeiras imagens chegaram.nos há pouco ,do nosso amigo António Baeta .servimo.las quentinhas e boas ,enquanto esperamos que outros amigos nos enviem mais .até lá ,construam e desconstruam temporalidades ,conforme vos aprouver .foi isso o que fizemos ,ontem ,sábado 3 de Novembro ,durante ,aproximadamente ,duas horas ,na Biblioteca Municipal de Silves ,à volta de "as luvas de um aprendiz (in)conformista" ,ed. World Art Friends"
"just share it!"



convite informal




caríssimos Amigos,

permitam-me este convite perfeita mente informal

,porque quero comunicar entre os meus sem imposições
,porque gosto da anarquia da palavra
,porque gosto de meninas mal comportadas
,porque as meninas bem comportadas não fazem parte dos meus livros
,porque sou epidermicamente contra convenções
,porque me quero na diferença
,nas metáforas e entre os meus irmãos de sangue

gostaria de contar convosco no próximo dia 3 de Novembro de 2012 ,pelas 17h00 ,na Biblioteca Municipal de Silves

.até lá
,com um beijo
mg


gostaria de contar convosco






 


se estavam à espera de um convite formal ,lamento decepcioná.los ,como certamente
iremos fazê.lo quando da apresentação do livro
.a surpresa será um ser diferente ou
uma outra forma de evasão



as luvas de um aprendiz (in)conformista





já à venda nas livrarias.

 na net
para adquirir o seu exemplar clique em:
world art friends ( ebook ).

mas ,se tiver dificuldade em encontrar o livro ,peça directamente à Editora
- ExRicardo dePinho Teixeira -
corposeditora@gmail.com -
o envio à cobrança.



as luvas de um aprendiz (in)conformista




o meu nome é Gabriela e tenho dentro de mim um navio


não sei a que ritmo escrevo se escrevo
como escrevo e porque escrevo
se não tenho porto de abrigo
mestres padrinhos ou compadres que me
peguem na mão e me levem escrita fora
.não me deito nem me levanto curvada
sobre o mundo e não vendo chiclets para
esconder o mau hálito
não guardo palavras esdrúxulas -

era assim que se dizia
em tempo de aprender -

átonas ou homónimas para com elas ditar o
meu testamento .o vento encarregar.se.á
de as encaminhar ou de as deitar no
lixo que se amontoa sobre os dilates da
escrita a vermelho onde me banho em fúria
.os vermes esgotam.me e as minhas mãos
deixam.se quedar entre o frio e o calor que
escorre sobre um antigo mata.borrão
.tudo se compromete e o sorriso de uma outra
mulher de nome igual ao meu perde.se na
conjuntura que me arrefece os miolos .quedam.se
os olhos e as línguas mordazes vestem.me no cinzento
de um tempo outro
.não digo não ao não mas não me visto de sim apenas
para agradar a um corpo que não se cola ao meu na
arte de desagravar .move.se lento o meu olhar quando
deslizo sobre opalinas coberta por grandes toalhas que
mais não são do que cidades abertas aos
espelhos que a minha mente desmente
.sob a água partem os meus sonhos quando quero dormir e
não posso porque apenas me restam as distâncias que
inventei contigo
.o meu corpo aborrece.se e
as palavras secam.se cosidas no desbarato da língua que
não sei se é minha se tua quando me volto a contagiar
.sei que não te toco sei que não me tocas mas não sei
nem quero saber se nos meus ouvidos apodrecem as
teclas ou se os alfarrábios tingem o silêncio e me toldam
a visão

.Goethe atem.se na evidência da prescrição!




*****


citação apócrifa


voa raso o choro do pássaro

cujas asas pousam devagar e
o grito se tem aquém do bando
.um torvelinho manso sobrevoa o ocaso
e detem.se no abraço de um a manh'ser
diferente
igual talvez ao temor da ave que não se sabe
acoitar ao relento
.esqueceu o ninho dos outros anos quando
as crias debandaram rentes ao porvir
indiferentes aos bravos que se afoitavam em
novos voos
.um pouco de
cor prevaleceu na tela do pintor que ousou
retocá.lo inserindo no rodapé dos acordos
pré.estabelecidos a teia dos consagrados
.os niilistas ( então ) quiseram.se sós tendo por
fundo a ausência dos sempre presentes
preservando.se para verdades mais
audazes
.o sortilégio da mistificação reinscreveu.os
numa aleivosia comum onde
a imortalidade se tem por adquirida à custa de
um sorriso atirado à parcimónia
.temerato
o pássaro cujas penas resistem
aos audazes golpes de asa
oblitera a tela
sem pedir licença ao editor porque

se Deus está morto ,então tudo é permitido”*
__________________________________________________
* Dostoiévski, in Os Irmãos Karamázov(?)



**************

GABRIELA ROCHA MARTINS - SINCERIDADE E RESSONÂNCIAS – A REINVENÇÃO DA POESIA

A poesia é um acto de criação solitário, de silêncios, de debate íntimo e de íntimas interrogações, de exposição inquiridora, no sentido distanciador e brechtiano; uma tentativa de reconduzir o pensamento criativo, osmose sensorial e crítica, ao que o marxismo entendia ser o homem total. A interrogação permanente faz parte do jogo dialéctico entre autor e o leitor cúmplice. O autor interroga-se, interrogando o outro; envolvendo o leitor nas contingências das máscaras discursivas e dos processos criativos. O hábil artífice deste mecanismo de exposição/introspecção era o poeta Armindo Rodrigues, ao qual Saramago chamou “o poeta perguntador”. A este universo, a estes traços da subjectividade dialogal, pertence a poesia de Gabriela Rocha Martins e este as luvas de um aprendiz (in)conformista .em trânsito. Logo pelo título que nos convoca para esse exercício da aprendizagem a um tempo contínua e fragmentada, em trânsito para o devir e para a descoberta (de si, dos outros, com os outros); e logo a partir de tão frágil e evanescente matéria como a das palavras, sobretudo quando vertidas, com corajosa sageza, no corpo do poema.
Se dizemos que a poesia de Gabriela Rocha Martins tem universos afins, atem-se a uma modernidade conceptual que, apesar de o ser, de autonomamente se afirmar, contém ressonâncias em outros momentos compatíveis com essa abordagem do poema e das suas intrínsecas recorrências, vibrações de outras confinantes estéticas e metafísicas – a solidão em António Nobre mas, igualmente, o sentido do vazio existencial em Ramos Rosa, ou a secura habitada (essa emoção gradeada) de uma Irene Lisboa -, dado que o poeta se recolhe para pensar, estua nesse limbo, nessa orgânica suspensão porque é preciso devolver a mudez ao silêncio.
Este livro é uma extensa, permanente e extasiada reflexão dobre a arte poética, ou seja, sobre a capacidade de ainda hoje, e face às derivas, ao caos da contemporaneidade, ser possível urdir as palavras com vagar, tomar-lhes o peso, a exasperação exacta do acto criativo, e retomar as fontes, regressar à memória enquanto ela sangra e ao silêncio que a voz reclama. Iniciar, com as voláteis ferramentas do acaso, esse duro ofício de aprendiz de feiticeiro, mezinha a mezinha, alquimia a alquimia até que os caminhos se desdobrem e neles, nesse chão de todos os mistérios, os passos retomem os azimutes perdidos. Deixemos, portanto, que o silêncio se incendei, que as palavras repousem para que possam flor/criança renascer.
A poesia de Gabriela Rocha Martins, a sua expressividade lexical, ancora no silêncio, mesmo quando, na convulsão do discurso, lhe parece imune; erige-se na vertigem das noites rumorosas, essas noites que exsudam os versos no delírio/dos corpos febris. Não sei se o Algarve, um Algarve outro, ancestral, mítico e árabe, o Algarve que a pena irónica e subtil de Manuel Teixeira Gomes nos revelou, ressoa nestes versos, nesta íntima forma de revelação, mas sei que é de corpos, de sol, de sal, do corpo íntimo, cativo das palavras que esta poesia se faz e nos açoita como vento breve sobre a pele nua. Como escreveu João Miguel Fernandes Jorge, o silêncio também termina em palavras, ou o silêncio também é música como disse John Cage.
Em Gabriela Martins, os mitos e as heranças poéticas servem para conduzir, lavrar o discurso metafórico, para os territórios dos imaginários ancestrais povoados por deuses e demónios, para a essência da escrita – e da inconformidade com a sua imanência. A palavra que ousa, que se afirma inconsonante com o real, que sobre ele age para/ desafiar/ nu/o mistério da criação, e em delírio é insubmissa, à revelia dos mortais, mesmo quando o seu território assenta na pesquisa dos seus próprios signos e se descobre imune aos sistemas de fidelidade poética como refere Bachelard para, dessa forma, melhor aferir o eco singular da voz.
há um fogo ardido que crepita na solidão de todas/as palavras a que o menino.homem acresce/-trago comigo a solidão do tempo para que uma/gota de orvalho alise a minha face e possa indicar/o regresso à tela onde me cravarão os pregos Os ritos vivem de silêncios, de recolhimento, de pose e de ficcionalidade, de silêncio vestido de uma breve palavra, e a palavra macula, fecunda e transfigura o silêncio, só a palavra abre, molda e rasga o silêncio mesmo quando o natal e a sua ritualização enche o espaço das solidões habitadas e um menino-deus prepara a eternidade efabular na pose de uma tela. Ou seja, tudo o que tece os nossos imaginários, mesmo os mais perenes, cabe na definição breve da palavra, mesmo quando um fogo ardido crepita no desamparo da sua solidão e cabe ao poeta revelar a gota de orvalho que, no delta de todos os rios, nos indique o caminho do retorno a casa. A poesia de Gabriela Martins vive centrada nesses envolventes temáticos: o silêncio, a angústia, a solidão, o desejo, o corpo e a construção do poema como espaço libertário, como imanação do sagrado.
A poesia portuguesa contemporânea caracteriza-se pela busca de elementos novos, nas múltiplas direcções que o sentido de modernidade ainda consegue estabelecer e permitir, embora a herança que lhe cabe venha ainda tutelada pela influência que Pessoa consegue manter, sobretudo através dos heterónimos Campos e Caeiro, sobre a linearidade do discurso poético indígena. De vozes autónomas, dado que o autor só existe quando assume o direito de alforria da sua singularidade, se faz hoje o texto poético, liberto de alguma ganga formal que a geração de 1950 introduziu na conceptualização dos imaginários e nos artifícios da linguagem.
Num tempo em que a literatura (e o cinema, o teatro, as artes plásticas) retoma um certo realismo urbano como fonte expressiva e estruturante do seu discurso, em que o texto poético se aproxima perigosamente da exposição factual, da imanência do olhar em volta, numa clara ruptura com o neo-romantismo que a geração de 1960/80 encenou, tentando uma introspectiva e sensorial ligação ao real, numa abordagem atrelada ao eu pessoano fortemente individualizada, afastando-se desse modo do colectivo e moralizado olhar neo-realista, aproximando a criação poética daquilo a que Barthes chamava “o grau zero da escrita”, ou seja, da experimentação, da busca e da interrogação criativas – espaço em que todas as afirmações se estabelecem e são, na sua diversidade, possíveis e mistificadoras. Num tempo assim, dizia, é estimulante verificarmos existirem vozes que sobrelevam esse espaço de retorno e se expressam em caminhos outros, que penetram outras derivantes da fala, do lirismo, que percorrem a obscura matriz das palavras sem cuidar de pedir licença para entrar nesse universo dos sentidos, da busca da palavra exacta, do seu eco e assombro – e da ênfase dos núcleos significativos no simbólico que toda a poesia configura.
Não sei se a poesia, para ganhar lastro, precisa de um atento leitor. A poesia, pela descontinuidade discursiva, apela decartianamente aos sentidos e só, a posteriori, a uma distanciadora racionalidade emotiva a que releva os sinais da serenidade, do que tarda (o silêncio) antes da plenitude do seu efeito no leitor ou da gargalhada ou o asco (que) oscilam entre o grotesco e o temível. as luvas de um aprendiz busca, na serenidade do seu vórtice expressivo, um espaço outro e mais vasto de singularidades e, quiçá, de liberdade, de audácia, mesmo com a ternura nas mãos poder filha da terra, despir-se da matéria e ficar nua e inverter o voo das estrelas e quedar-se no canto/dos pássaros perdidos em folhas e folhas de/puro espanto. Temos, assim, uma poética que se revê na pulsão mais lídima dos sentidos que, nostálgica, se sente presa a uma memória que persiste, que queima e impede o grito que a liberte, as asas que a transportem ao espanto, aos paraísos perdidos, ao sentido das coisas, ao corpo oculto das fontes, à autenticidade e à verdade, quando o jogo metafórico ilide a inautenticidade e a inverdade que o seu próprio discurso expressa – a vertigem da incomunicabilidade que faz com que o poeta guarde os poemas no cofre forte da memória.
A linguagem é, em Gabriela Martins, mais que a figuração do real; uma contínua – e experimental – procura, desdobramento, dos símbolos que a constituem. E uma descida, por vezes provocatória, aos infernos do ser, forma última do poeta se questionar enquanto fazedor de fábulas, de se mostrar/ocultar (num processo puramente pessoano) nesse poliédrico espelho de múltiplos reflexos; de, sendo aprendiz em trânsito, desenvolver a mestria de uma pessoalíssima oficina da arte poética – e do seu esconjuro e impotência, a rasar pelos versos de um poeta ( Mário Sá-Carneiro) que desistiu dessa busca: sonhos ladrões de sonhos e/andamos de ganho em ganho em/demanda de um pouco mais de sol .
A poesia é o acto mais fecundo dos modos de nos darmos ao outro, de diálogo íntimo, no sentido socrático, com o outro, mesmo que ocasional leitor e em trânsito. Estão lá, no poema, as nossas íntimas ressonâncias, os murmúrios altos e os compungidos silêncios. Uma fala que, na dialéctica obscura dos seus signos, se tem o outro como alvo, como sentido último da exposição, ao expor-se se recupera mais lúcida e substantiva. Escrever deixa, assim, de ser um acto de isolamento, de mudez face ao silêncio, para, transpondo a solidão desse mesmo acto, se volver diálogo com o outro e nele, através da palavra, se reflectir regressando à sua matricialidade, ao jogo elementar, à ironia do fingimento provocatório (lê-se a palavra FMI perdão FIM), à busca da verdade possível, só possível quando se perde o sentido das palavras. O que não é o caso.
Dispamos a ganga puída da hiperbólica louvaminha, tão lusa e curvada, e sejamos enxutos e simples num raro aceno de júbilo: partindo do pressuposto de Eugenio Montale de que tudo está escrito, a poesia de Gabriela Martins tenta – e consegue – a originalidade de impor uma voz que, afirmando-se, se busca e tenta abrir clareiras na floresta de vozes afins, aquelas que a sua poesia, em reverso límpido, transporta em sua transparente dimensão textual. E deixa-nos deslumbrados. perplexos. capazes apenas de a ler. de a adobar com jeito e com ternura. de a comer, que é para isso, ó sub-alimentados dos abismos, que a poesia, como a Natália Correia escreveu, - esta poesia – se fez verso. comamo-la sem luvas para que esta poesia, em sua deriva insubmissa, se possa reinventar/numa enorme gargalhada.


DOMINGOS LOBO




**********
***

as luvas de um aprendiz (in)conformista

.em trânsito

 
gabriela rocha martins



MailArt/ArtMail - 900 anos da Cidade de Coimbra







no âmbito das comemorações dos 900 anos da outorga do Foral à Cidade de Coimbra ,o meu amigo e poeta João Rasteiro convidou.me a participar num projecto bastante interessante .cada convidado ( poeta ,artista plástico ,escritor ,etc. ) ,deveria utilizar o verso do postal criado ,propositadamente ,pelos CTT ,a seu belo prazer e enviá.lo ,através dos mesmos ,à Casa da Cultura de Coimbra ,de modo a que a sua participação tivesse a "chancela" de um carimbo alusivo à efeméride...
esta foi a minha participação no referido projecto que integrará uma Mostra Filatélica comemorativa, com várias colecções relacionadas com o tema de Coimbra, a organizar em conjunto pela CMC, CTT e Secção Filatélica da AAC.



Apresentação do livro "A Menina Marieta"








algumas considerações sobre a “A Menina Marieta”


antes de tecer algumas breves considerações sobre “A Menina Marieta”, gostaria ,em primeiro lugar ,de agradecer ,à Autora ,pelo facto de me ter convidado para apresentar ,em primeiríssima mão ,o seu livro .em segundo lugar ,às minhas “sobrinhas”  Carla Antunes e Suzete Candeias ,directoras do Jardim.Escola João de Deus ,de São Bartolomeu de Messines ,assim como a todo o Jardim.Escola  ,por terem viabilizado esta aventura que ,desde o primeiro momento ,se pretendeu diferente ,cansadas ,como estamos ,dos estereótipos das apresentações de livros .queria ,ainda ,lembrar ,grata ,todas e todos aqueles que tornaram possível este momento ,e ,sobretudo ,permitam.me que vos releve ,a vós ,ao aceitarem estar presentes ,neste momento em que ,para o mundo real ,”A Menina Marieta” inicia o seu longo e profícuo caminhar.
muito obrigada a todos!

passemos ,então ,às observações…………

“o leitor escreve para que seja possível” – escreveu ,um dia ,Manuel Gusmão .concordo em absoluto com esta sua afirmação ,razão porque a chamo para princípio desta apresentação …..
escreve ,no entanto ,para que sejam críveis as suas leituras .as suas ,dele leitor .tarefa nada fácil no que a mim concerne , pela escrita/leitura do livro e por tudo a que a mesma me remete.
primeiro ,e ,por muito objectiva que tente sê.lo ,não serei capaz e admito.o perante todos vós .não sou capaz ,porque há profundos laços de amizade e familiares ( a ordem dos factores não é arbitrária ,antes propositada ) que me ligam à Autora deste livro .depois ,a leitura do mesmo remeteu.me para os arquivos sagrados da minha memória e trouxe.me ,conscientemente, algumas/muitas recordações que havia deixado lá atrás ,numa gaveta bem fechada .de propósito ,a Autora obrigou.me a abri.la e a regressar a uma Praia da Rocha e a um Portimão que ,de tão vívidos ,se tornaram dolorosos .não foi nada fácil a leitura de “A Menina Marieta” .dei por mim abrindo e fechando o livro ,negando.o ,pegando.o ,colocando.o sobre a mesa de cabeceira ,até lê.lo à exaustão ,numa confusão de sentimentos que ,ab initio ,não entendi
.percebi.o ,porém ,no dia em que terminei a sua leitura …a minha tia Amparo obrigou.me a regressar à infância ,e ,às vezes estas regressões são assaz perigosas…. mas ,porque esse perigo não se nos apresenta ,há que debruçar.nos sobre as várias escritas que a Autora nos propõe e nós ,seus leitores ,pensamos que descortinamos…
como não sou crítica literária ,nem tenho essa veleidade ,será na minha condição de leitora e de vagamunda das palavras que tecerei alguns breves desideratos sobre “A Menina Marieta” e
começarei com uma afirmação controversa ,tão ao meu gosto de transgressora.
“A Menina Marieta” não é um romance de amor .sei que me vão cair em cima ao fazer tal afirmação .mas repito alto e em bom som – A Menina Marieta ,para mim ,não é um romance de amor .podem celindrar.me .não me importo ,porque sempre gostei de pensar e agir ( às vezes menos bem! ) pela minha própria cabeça .assim ,reafirmo que “A Menina Marieta” não é um romance de amor ,pelo menos ,quando assumido na acepção clássica do termo .quanto muito será um romance de amor absoluto .Marieta – ou a autora através deste seu arquétipo – busca a ascese e fá.lo num conceito amplíssimo de liberdade ,de entrega de si aos outros ,e ,não ,apenas ,ao outro ,como ser físico .aliás ,ela não entende muito bem a dicotomia erótica do amor ,nem é isso que procura .Marieta quer.se em plenitude .sabe ,ao olhar o mar ,que obsessivamente ,ama ,que o que quer é o que está para além de … mas não entende essa ligação uterina que os liga .aliás ,é junto ao mar ,numa descrição felicíssima e que nos deixa ,de tão subtil ,em dúvida durante algumas páginas ,que ela descobre o amor físico ,cujas consequências a perturbam ,durante algum tempo .sublime essa descrição ,minha tia!
o mar ,que no fundo acaba por ser o seu alter ego ,é o personagem principal nesta trama ,admitido como ser mãe ,mulher ,princípio e fim ,que se cola à pele de todos nós ao ponto de quase nos apetecer dizer – “fora! o teu lugar não é neste livro“.mas é ,porque no fundo ,é o mar que o atravessa e serve de ponte entre as três partes que o constituem.
“A Menina Marieta” também não é um romance tradicional ,muito embora estejam presentes todos os ingredientes necessários à narrativa.
“A Menina Marieta” é ,sobretudo ,o retrato de uma época que a autora ,numa linguagem quase cinematográfica ,na badana do neo.realismo italiano e do “noveau romain” ,nos conduz através dos seus labirintos existenciais .a Marieta contraponto da Amparo Monteiro ,ou a sua afirmação pela negativa ,é o arquétipo da mulher pequeno burguesa de um Algarve efervescente ,nas décadas 50 e 60 do século passado .mas não é a única!
aliás ,é através de um molhado e arguto olhar feminino que vamos encontrando muito bem delineadas ,as operárias fabris e as suas famílias ,contrapostas ao novo riquismo aburguesado de algumas senhoras ,clientes de Marieta ,elas próprias ,envolvidas na trama de um pulsar diferente e compulsivo que começa a sentir.se no ar ,perceptível só muito levemente ,mas que atinge o seu zénite na terceira parte do livro ,em plena guerra colonial….
mas ,reservemo.nos um pouco atrás ,para felicitar a Autora pela utilização do dialecto algarvio na boca dos seus personagens .nada dificulta a percepção da narrativa que se desenvolve ,aqui e além ,talvez na utilização um pouco abusiva ,em meu entender ,de um calão demasiado forte num personagem ,com algumas pretensões de ordem social .isto é .Marieta talvez não necessitasse desses repetidos bordões de fala para se afirmar como personagem .mas Marieta é na sua matriz a linha condutora de uma época .é ela que nos leva a descobrir recantos dum Algarve ainda característico ,mas hoje, infelizmente ,inexistente .à custa de quê? esta ,aliás ,é a questão principal e à volta da qual se desenvolve todo o subtexto a que o texto ,isto é, a narrativa ,se prende ,porque são bem reais alguns dos personagens que vamos encontrando, ao longo das páginas .eu conheci esta Marieta .eu conheci ,não este ,mas muitos Batatas .eu conheci a Donana .eu conheci a Bia e ,curiosamente ,até brinquei com ela .eu conheci o Senhor Ferreira e sua Mulher ,amigos de meus pais .eu conheci aquela Praia da Rocha .a minha//nossa praia .como conheci ,menos bem ,mas conheci ,aquele pulsar de vida que foi a cidade de Portimão .por isso ,dói .doeu.me ler este livro .daí o meu aproximar .o meu pegar .o meu rejeitar … mas, atenção ,porque essa dor constituiu um doer diferente .foi um doer gostoso ,feito de tudo o que já tinha arquivado há muito ,e ,porque demasiado bom e belo ,não queria remexer.
é ,no entanto ,absolutamente necessário ler este livro ( que se faz em crescendo ,porque também ele é escrito em crescendo ) e que nos remete para horizontes inusitados de uma escrita e de um Algarve que nós ,as sessentinhas e sessentonas vivemos ,e ,que as novas gerações apenas conhecem na tradição oral e escrita …
gostaria ,ainda ,de escrever – sim ,porque como dizia no início da minha apresentação ,o leitor escreve para que seja possível… - algo sobre a maneira como a minha tia concebeu o livro .nota.se que é o seu primeiro ,dado à estampa ,pelo cuidado na forma a que a princípio se acha muito apegada .começa ,logo na primeira página ,por se apresentar senhora do texto ,para cair ,sem se aperceber ,no jogo subtil da palavra que se impõe e à qual acaba por subjugar.se .todavia ,aos poucos ,esquece.se e ,aí sim, liberta de preconceitos ,é a mulher/escritora na sua plenitude ,para de novo ,voltar a retrair.se ,num domínio em que o seu conhecimento é por interposta pessoa .enquanto que ,na primeira parte ,a Autora tece as malhas em fogo brando ,na segunda ,lança.se em absoluto ,para ,na terceira parte ,se defender ,inteligentemente ,num terreno desconhecido .menina aplicada não se excede .controla.se ,para num pleno ,em que ,em absoluto ,lhe tiro o chapéu ,terminar de forma magistral o livro .é ,precisamente ,na última frase que nós reencontramos a Autora .desconcertante ,como só ela.
Obrigada ,Amparo .obrigada ,minha tia ,porque “A Menina Marieta” é ,sobretudo ,um livro inteligente e de leitura obrigatória


São Bartolomeu de Messines ,28 de Junho de 2012
Gabriela Rocha Martins.






um rasgo de mulher sentada dentro da chuva*






sairei porta fora com um saco de poemas
na mão e
deixá.los.ei à porta do primeiro vagamundo
que encontrar certa de que com eles cobrirei
o ruído deixado pelos carros que percorrem
a marginal dos sonhos
por vezes acho.me num torvelinho de entrar
vida a dentro trocando ditames por um pedaço
de ilusão ou
prendo.me à sombra de um regaço se o fio de
água que escorre de uma nuvem me deixar
fixa na figura que se esvai esguia em solidão
sou um murmúrio apodrecido no vento suão
ou um pássaro que segreda a um ouvido a
última balada que um dia há.de compor
diagnostico.me como uma palavra prenha de
alarmes e escorrego por uma brevíssima gota de
água ao encontro das marés vivas
há sinais de passos oblíquos no asfalto molhado e
a ignomínia da dor provoca.me um sentimento
intransponível de tristeza maior é ( então) que
acendo um cigarro na labareda do anoit'ser
antes de parir
o último poema vomitado por Cronos

um pássaro amarelo desfeito em escamas
cola.se ao meu silêncio


_____________________________________________
*poema inserido na Antologia “100 Poemas para Albano Martins” ,da Editora Labirinto






um rasgo de mulher sentada dentro da chuva*






sairei porta fora com um saco de poemas
na mão e
deixá.los.ei à porta do primeiro vagamundo
que encontrar certa de que com eles cobrirei
o ruído deixado pelos carros que percorrem
a marginal dos sonhos
por vezes acho.me num torvelinho de entrar
vida a dentro trocando ditames por um pedaço
de ilusão ou
prendo.me à sombra de um regaço se o fio de
água que escorre de uma nuvem me deixar
fixa na figura que se esvai esguia em solidão
sou um murmúrio apodrecido no vento suão
ou um pássaro que segreda a um ouvido a
última balada que um dia há.de compor
diagnostico.me como uma palavra prenha de
alarmes e escorrego por uma brevíssima gota de
água ao encontro das marés vivas
há sinais de passos oblíquos no asfalto molhado e
a ignomínia da dor provoca.me um sentimento
intransponível de tristeza maior é ( então) que
acendo um cigarro na labareda do anoit'ser
antes de parir
o último poema vomitado por Cronos

um pássaro amarelo desfeito em escamas
cola.se ao meu silêncio


_____________________________________________
*poema inserido na Antologia “100 Poemas para Albano Martins” ,da Editora Labirinto





Os amigos

.
.
.




Os amigos são feitos de silêncio e bruma e vivem em casas cercados de ouro e âmbar.
comovem-se como as crianças
depositam ao crepúsculo páginas de bondade e vento.
há amigos que ainda não nasceram e chegam do futuro.
outros, em fragmentos de luz, foram-se embora
a partir de fissuras do poema. e chamam-me para dentro.
e vivem em pomares brancos.
de um amigo a outro, por vezes, cabe a sombra de uma escada
e aprendo a falar por degraus. e digo amor, ave, instrumento
saudade. e sou um rio de pequenos ramos a anoitecer na água.
por vezes encostam o ombro a uma nuvem. ou barco. ou asa
emprestando os seus dedos líricos à página escura do livro
que estou a ler. e são um dia azul muito quente
movido a ar e lume. e sinto-me crescer num arbusto de ternura.
os amigos dormem. estão de olhos abertos. sabem tudo
o que as crianças querem dizer. e são a luz dos meus olhos
quando fico cega. penso-os para toda a eternidade.
são diamantes rodeados de fogo e lágrimas.


maria azenha
2012, Fev, Lx
.
.
.

Entrevista ao jornal "Terra Ruiva"*

.
.
.


Um dia ofereceram-lhe um lápis. E nunca mais parou. Nem parou de escrever, nem parou de transgredir - com todo o orgulho.
Gabriela Rocha Martins, há muito colaboradora no Terra Ruiva, diretora da Casa-Museu João de Deus, em Messines, tem um longo e singular percurso como investigadora, escritora e poetisa.
No final de 2011, alguns dos seus poemas foram escolhidos para integrar a IV Antologia de Poetas Lusófonos, numa edição da Folheto & Design.
Foi este o pretexto para o Terra Ruiva lançar meia dúzia de questões, sobre os projetos e os segredos desta silvense. As respostas foram dadas pela autora, por escrito, segundo o seu estilo particular.



TR - Fale-nos um pouco desta antologia que incluirá os seus poemas. Como surgiu esta oportunidade/convite?

grm - esta Antologia ,como o seu coordenador-editor ,Adélio Amaro ,muito bem define no Prefácio ,é “ a continuação do encontro entre diversos poetas de variados e longínquos países, onde a distância é apenas terrena. É a união da Língua que consegue galopar todas as barreiras. É a Lusofonia Poética que Cecília Meireles defendia como “um espaço para publicação de música e de poesia de poetas da Língua Portuguesa”. É o encontro do mesmo idioma, mas de cores variadas”.
o convite partiu do Adélio Amaro que editou o meu primeiro livro de poesia “.delete.me.” .como ,segundo parece ,gosta da minha forma de vagamundear pelas e com as palavras ,convidou.me para ,em 2007 ,integrar a I Antologia de Poetas Lusófonos .destarte e porque era um desafio aliciante ,aceitei ,e ,voltei a fazê.lo este ano ,porque quem sabe? esta é uma Antologia que até pode ser a Última flor do Lácio, como Olavo Bilac defendia...

TR - Foi a Gabriela que escolheu os poemas? Quem os selecionou?

grm - os poemas com que resolvi participar nesta Antologia ,foram seleccionados por mim ,mas ,quando os enviei ,não sabia se seriam todos publicados ,porque estavam sujeitos à apreciação ,prévia ,de uma comissão de avaliação.

TR - Quantos poemas serão publicados?

grm - são quatro os poemas seleccionados e publicados - “o silêncio é de ouro” ( 14 de janeiro de 2011 ); “retratos de uma cidade” ( 25 de janeiro de 2011 ) ; “às vezes sou um sim ,às vezes não” ( 8 de fevereiro de 2011 ) e “sem explicação aparente” ( 29 de março 2011).

TR - Quantos autores estão incluídos?

grm - nesta Antologia ,encontram.se publicados poemas de 140 autores.

TR - Penso que não é a primeira vez que os seus poemas são publicados em antologias. Já houve outras publicações?

grm - e pensa muito bem! de facto ,desde 2003 tenho poemas editados ( em Portugal e em Espanha ) no Ciberespaço ,em Revistas Literárias ,Colectâneas e em outras Antologias ,a saber:
2003, O Fulgor da Língua e o Estado do Mundo – ciberpoema , integrado em Coimbra Capital da Cultura;
2006, Inquietação e Poiesis XIV ,ed. Minerva;
2007, Poiesis XV ,ed. Minerva ;I Antologia de Poetas Lusófonos e Revista Litterarius , ed. Folheto & Design, Lda;
2009, Os Dias do Amor ,ed. Ministério dos Livros ;Revista Oficina da Poesia ,nº 12 ( Universidade de Coimbra ), ed. Palimage , e ,Entre o Sono e o Sonho ,II Vol. ,Chiado Editora;
2009//2010, Diálogos com a Ciência ( Universidade do Porto );
2010, SULscrito ,nº 3 , ed. 4Águas e Cuadernos Telira ,nº 13 , ed. Caja de Burgos;
2011, Se Lo Dije A La Noche - Poesia - Juan Carlos Garcia Hoyuelos ,( Burgos ) e IV Antologia de Poetas Lusófonos , ed. Folheto & Design, Lda;
2012, Antologia de Homenagem a Amato Lusitano ,Câmara Municipal de Castelo Branco ( no prelo ) e Antologia "Um Poema para Albano Martins", Ed. Labirinto ( no prelo ).

TR - Além da poesia, escreve outro tipo de textos? Quais e onde?
       - Está a trabalhar nalgum projecto actualmente?

grm - sim sim! muito embora entre a poesia e mim haja uma ligação uterina fortíssima que vem de há muito ,todavia ,com alguns interregnos ,mormente ,nas décadas de 80 e 90 do séc. passado ,onde a investigação me ocupou ,exclusivamente ,com trabalhos que vieram a ser mencionados ,na época ,por alguns autores ,académicos e estudiosos ,gosto de ousar.me na poesia visual ,na prosa poética e no conto ,e ,faço.o ,em revistas ,como foi o caso do “Letras e Letras” ,onde cheguei a ser correspondente redactorial ,na década de 80 do séc. XX ,como representante ,no Algarve ,da Fundação Natália Correia ,e ,como responsável pela edição da Revista Litterarius ,onde pautam alguns textos da minha autoria .hoje ,aceito participar em projectos a quatro mãos e aventuro.me em “textos rasurados” ,ao sabor do momento ,como é o caso da minha colaboração mensal no Terra Ruiva .a blogosfera ,porém ,é o meu domínio preferido ,e ,respondendo à sua pergunta se ,actualmente ,me encontro a trabalhar nalgum projecto, digo.lhe que sim que me encontro ,qual crisálida ,numa fase de amadurecimento e selecção da minha obra – ensaio ,lírica e prosa poética - a fim de publicá.la on-line ( ebooks ) ,começando por essa arte nobilíssima a que chamamos POESIA .o imenso respeito que a mesma me suscita tem.me levado a experiências diversas ,cujos resultados têm sido bem honrosos ,mormente ,com a escolha, por exemplo ,do meu livro .delete.me. para tese de um doutoramento.

TR - Quando começou a escrever? E como descreveria a sua relação com o ato de escrever?

grm - comecei a escrever quando ,um dia ,já bem distante ,me ofereceram um lápis e com ele apontei a lua .disseram.me que era feio apontar .então ,qual transgressora nata ,tracei uma linha entre as duas e comecei ,diariamente ,a preenchê.la com palavras e palavras e mais palavras ,até criar aquela ligação uterina de que lhe falei ……
descrever a minha relação com o acto de escrita? minha querida amiga ,um acto de amor ,pratica.se ,não se descreve .satisfá.la a resposta? sei que não ,mas dos vagamundos não se rezam histórias……

………..e ,à laia de fim de entrevista ,permita.me que ,de forma sucinta ,mencione outras escritas:

1.PUBLICAÇÕES:
- “Notícia Informativa sobre a Cidade de Silves. Subsídios para a sua História”, brochura publicada pela Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Silves.
- “Silves Histórica”, artigo publicado na Revista Tribuna do Algarve.
- “Notícia Histórica sobre a Sé de Silves. Do Cartório Quinhentista ao Actual Arquivo Paroquial”. Congresso do Algarve.
- “O Pelourinho de Silves”, com prefácio do Académico Prof. José António Pinheiro e Rosa. Congresso do Algarve.
- “A Imprensa no Concelho de Silves. 110 anos de Actividades Jornalísticas”. Congresso do Algarve.
- “A Antiga Toponímia de Silves. Co-relação com os Actuais Topónimos”. Congresso do Algarve.
- “A Presença dos Judeus no Algarve”, artigo publicado na Revista “Correio do Algarve”.
- “1189-1989. Comemorações Centenárias da Conquista de Silves”, artigo publicado na Revista “Tribuna do Algarve”.
- “O Castelo de Silves” palestra apresentada em Silves e publicada no Boletim da Junta Directiva da APAC.
- “Algumas Achegas para o Levantamento dos Usos e Costumes de Silves. Suas Tradições” – alguns Capítulos encontram-se publicados nos Livros de Actas dos Congressos do Algarve.
- “Breve Síntese Histórica sobre a Cidade de Silves. Estudo Cronológico”, artigo publicado no jornal ALFANGE.
- Colaboração no artigo “Sun, Sea and History; Portugal,s Algarve”, de Geoffrey Moorhouse, publicado no “Traveler National Geographic”, vol II, number 4, Winter 1985/86.
- “O Teatro Gregório Mascarenhas”, artigo publicado no nº 3 da Revista “O Mirante”, Dezembro de 1991.
- “O Actual Edifício dos Paços do Concelho de Silves”, artigo publicado no nº 4 da Revista “O Mirante”, Março de 1992.
- “Casa-Museu João de Deus; O Homem, O Cidadão, o Poeta ou um Processo de Memória e Morte”, artigo publicado no nº 6 da Revista “O Mirante”, Março/Junho de 1993.
- “Algumas Considerações muito inoportunas… sobre Democracia e Solidariedade”, idem.
- “Silves…Uma Viagem ao Passado”, artigo publicado na Revista Algarve/Andalucia, nº 3, Outubro de 1998.
- “Casa Museu João de Deus”, artigo publicado na Revista Algarve/Andalucia, nº 5, Janeiro/Fevereiro de 1999.
- “Casa Museu João de Deus. O Futuro construído em Memória”. Congresso do Algarve.
- “A Ludoteca. Casa Museu João de Deus”. 4ª Conferência Nacional sobre Ludotecas. Oeiras, Maio de 2001.
- ”João de Deus ,Trajectos - Do Grés à Arte da Escrita” – coordenação geral, Março de 2010.

2.TRABALHOS MEUS CITADOS EM OBRAS DE OUTROS AUTORES
- O Pelourinho de Silves, sua classificação e possível datação, in “Levantamento Arqueológico-Bibliográfico do Algarve”, de Mário e Rosa Varela Gomes, Ed. Secretaria de Estado da Cultura, Faro, 1988.
- Levantamento dos Usos e Costumes de Silves. Suas Tradições, in “Guia da Cidade de Silves”, de Manuel Castelo Ramos e António Baeta de Oliveira, 1997.
- Algarviana, in “O ALGARVE. Da Antiguidade aos nossos dias: elementos para a sua história”, coordenação de Maria da Graça Maia Marques, Ed. Colibri, Lisboa, Abril de 1999.
- Notícia Histórico-Informativa sobre a Cidade de Silves, in “Museu da Cortiça da Fábrica do Inglês. Exposição Permanente. Estudos. Catálogo”, coordenação de Jorge Custódio e Manuel Ramos, Ed. Fábrica do Inglês, S.A.., Silves, 1999
- Levantamento dos Usos e Costumes de Silves. Suas Tradições, in “Museu da Cortiça da Fábrica do Inglês. Exposição Permanente. Estudos. Catálogo”, coordenação de Jorge Custódio e Manuel Castelo Ramos, Ed. Fábrica do Inglês, S.A.., Silves, 1999



*( entrevista concedida no dia 9 de janeiro de 2012 ,ao jornal Terra Ruiva ).
.
.
.

'cartão' de Boas Festas.




1.

ponho a minha mão
direita, paralela
à mão direita encurvada e
meio aberta
encadeada com todas as mãos puras dos mundos.
ponho a minha mão, agora.
vão, irmanadas com ela,
pétalas rosa que já foram pão
algas roxas azuladas penas anis
caules gotículas areias grãos e asas
sustidas por duas brasas frementes
que são o que serão.
ponho aqui a minha mão
lavada
dos lodos inclementes
limpa
de acenos frouxos acordos ocos
livre
limpa lavada livre: a mão
junto-a aqui, ponho-a agora,
concentrada. meio aberta
concertada com veios e meridianos
os mais puros liames dos mundos.
ponho aqui agora a minha mão
cautelosa na fragilidade dos elementos
caudalosa na suavidade dos impulsos
vibrátil poderosa intensa e ágil
concentrada, agora, no pousar das grandes asas
que é como quem diz: os universos.
pouso, aqui, agora, a minha mão.
aninha-se em silêncio falante.
permanece no instante, ínfima,
caudalosa cautelosa encadeada
no instante vibrátil e fremente pousada.
ponho aqui a minha mão. e alumia.
aqui, invoca sela e abençoa
encadeada no arco da amorosa clemência.
ponho a minha mão
junto da outra mão
direita e esquerda encontradas na vida
minhas mãos de esperança amealhada
juntas às mais puras, aos mundos, estão.
fluir cioso de universos em pétalas e asas
brioso adejar de universos dentro das algas
— salgado, em cada gotinha de mar
doce, em cada lágrima de amar —
ponho minhas mãos aqui, aliviadas
do estrugido de mísseis, metralhadoras
do trilho de apedrejados sangues vertidos
do cisma odioso de roubar a fartura
embuste odioso cisma prestes a estourar.
ponho a minha mão e a outra
confiantes na esperança amealhada
firmadas na passada de canseiras
juntas invocam selam abençoam
e iluminam
o côncavo pulsar da brasa ardente
onde desaguam os puros meridianos dos mundos.
juntas. aninhadas, pois, concertadas
pouso — a minha mão e a outra — sobre o pulsar
do côncavo ardente do meu peito livre.
.
.
.
2.


ponho a minha mão na acha
entre a brasa e a pinha seca
dentro do tronco de oliveira verde
no caule da branca flor em flor.
integro as sagezas da combustão
irmanada nas fortes cores da fogueira
no fogão na lareira na salamandra
ponho reponho e deponho, com a mão,
a malícia a maldade o servil gesto
o reles olhar, intento ou acto
da submissão.
ponho a mão, a mão esquerda, no fogo
desbordo-me em cera derretida
multiplico-me em estalidos, faúlhas
reparto-me pela constância vibrante
dos amarelos arrepiantes do arder.
também ponho a mão direita até fundir
na merecida fuligem a que pertencem
as dispensáveis fugas e rasteiras.


..............................sabem, estas mãos, o rumo do amarelo
..............................fulgente nos azuis nocturno e solar.



..............................sabem, estas mãos, da rara temperatura
..............................alojada na fusão das puras cinzas
..............................se o pauzinho resiste, impertinente, ao vazio.



ponho ambas as minhas mãos ao alto
tornam-se, elas mesmas, no estalido
que o emperrar da engrenagem supõe.



..............................sabem, estas mãos, como é virtual o fumo
..............................assoberbado pela servidão maléfica.



..............................estas mãos sabem os gestos paralelos
..............................— os da mão esquerda aos da direita —
..............................gestos zeladores da potência do ser.



por tudo isto alinho,
alio as minhas mãos
ao pleno fogo
e, universalmente,
emperramos e detemos o desconsolo.
.
.
.
3.


ponho a minha mão quente — a inquieta —
juntinho da minha outra mão calada.
uma, a desassossegada, rugindo
instiga a indignação, o movimento.
outra, a raiz da fala graciosa
amestra a pausa de respiração.
ponho aqui, assim, entrelaçadas
as armas magistrais da melodia
as bagas da alegria, salvas e sinos
fogos, sem artifício, do que vive.
entrelaçadamente, assumo as mãos
meus ninhos do fui e serei, pois sou.
.
.
.
4.


com ponho a minha mão estou a nomear
contornos do impossível e ilimitado
cacho das fibras de vida
expectante.


com ponho a minha mão toco o eterno
ciclo virtuoso dos caminhantes.
por isso ponho agora, aqui
e em todo o sempre
esta mão destinada a ser casulo
a tecer casulos no abrir-se a outras mãos.


com ponho a minha mão, afinal, digo
as sílabas contidas por germinar
os lábios carentes no longo beijo
abraços entremeados a braços
e ombros
no instante da chegada
depondo bagagens alheias
abandonando a estranha carga
no instante do encontro
de olhar, de olhos
transfigurados em abraços longos, doces.


com ponho a minha mão percebo, enfim
que nada digo faço nem invento:
é da natureza intangível dos gestos
amealhar, para habitar, os universos.
.
.
.
5.


não fossem elas
nunca crescia o trigo
nem o grânulo geraria salsa
flores peixes uvas tâmaras leites.
não fossem, não foram elas
seguiam os continentes por encontrar
a morabeza por se dar
tango flamencos e fado
ainda, mudos, a latejar
saudades no âmago da vida.
não foram elas
não fossem elas
as nossas mãos
agora aqui sofreriam
até
pela ausência do poema.
.
.
.
6.


de par em par
vidraças
gestos
temores de medo apavorados
escancarar. desligar.
de par em par
ombros
— os ombros —
e tudo o mais que se refaça
está a nascer do solidário abrir das mãos.
.
.
.
7.


acolho — o esvaziar da mágoa
o desaguar de dores
e perfídia
desencontros entre o veneno e salivas
impurezas no deslaçar do mofo
brancuras a vencer carunchos —
acolho, no pleno abrir de minhas mãos
aos universos dos frementes gestos.
.
.
.
8.


“não meu, não meu é quanto escrevo”
ensina Pessoa, eternamente.



também minhas não são
estas pungentes
estas mãos que me nascem no poema.
.
.
.
9.


lanço os búzios salgados
sem segredos
trazidos pelo alto ondear das vagas
deram à costa sul da humanidade
e, orientados pelos interstícios da fala,
rolaram até às minhas mãos de areia em verso.
.
.
.
10.


tantas quantas inúmeras são?
nem saberia reportar
o misterioso
balanceado a quatro ventos
ancorado à plena rosa
cardeal
dos gestos.
dizes-me: dedo a dedo,
uma dezena.
digo-te: dedo a dedo
infinidade
se às minhas mãos unirmos
as tuas
as tuas as suas e as outras:
puras
todas as mãos dos universos.
.
.
.
maria toscano.
Coimbra, ‘Galerias Santa Clara’.
31 Dezembro/2011 e 1 Janeiro/2012



um ano é feito de muitas coisas......

.
.
.
.
.
.

Moita saúde e moita felicidade no ano bisesto ou bissexto 2012

.
.
.
«Oh... Mar, anô passá tempo corrê»,
di un dos versos desta canción da amada e chorada voz de Cesária Évora.

Así é, o tempo corre e xa se foi este ano once. Malia ser vate, non son quen de facer vaticinios sobre o vindeiro ano, que os gurús da economía agoiran cheos de dificultades. Porén, nós necesitamos a esperanza e a ilusión. Velaí pois os meus desexos de que chegue onda vós unha enorme vaga de mar que vos deixe moita saúde e moita felicidade no ano bisesto ou bissexto 2012.
Inxalá que todas as crebas que apañedes nas costas dos vosos corazóns sexan de proveito.
Bicos e apertas atlánticas.

Miro Villar

O Mar,
Deta quitinho, bô dixam bai
Bô dixam bai spia nha terra
Bô dixam bai salva nha Mãe...

O Mar,
Mar azul, subi mansinho
Lua cheia lumiam caminho
Pam ba nha terra di meu
São Vicente pequinino,
Pam ba braça nha cretcheu.
Oh... Mar, anô passá tempo corrê
Sol raiá, lua sai
A mi ausente na terra longe...
O Mar...

Marazul, canción de CesáriaÉvora. Na primeira versión interpretada pola cantora caboverdiana e na segunda nun dueto con MarisaMonte.





-Miro Villar.
.
.
.