convite informal




caríssimos Amigos,

permitam-me este convite perfeita mente informal

,porque quero comunicar entre os meus sem imposições
,porque gosto da anarquia da palavra
,porque gosto de meninas mal comportadas
,porque as meninas bem comportadas não fazem parte dos meus livros
,porque sou epidermicamente contra convenções
,porque me quero na diferença
,nas metáforas e entre os meus irmãos de sangue

gostaria de contar convosco no próximo dia 3 de Novembro de 2012 ,pelas 17h00 ,na Biblioteca Municipal de Silves

.até lá
,com um beijo
mg


gostaria de contar convosco






 


se estavam à espera de um convite formal ,lamento decepcioná.los ,como certamente
iremos fazê.lo quando da apresentação do livro
.a surpresa será um ser diferente ou
uma outra forma de evasão



as luvas de um aprendiz (in)conformista





já à venda nas livrarias.

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- ExRicardo dePinho Teixeira -
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as luvas de um aprendiz (in)conformista




o meu nome é Gabriela e tenho dentro de mim um navio


não sei a que ritmo escrevo se escrevo
como escrevo e porque escrevo
se não tenho porto de abrigo
mestres padrinhos ou compadres que me
peguem na mão e me levem escrita fora
.não me deito nem me levanto curvada
sobre o mundo e não vendo chiclets para
esconder o mau hálito
não guardo palavras esdrúxulas -

era assim que se dizia
em tempo de aprender -

átonas ou homónimas para com elas ditar o
meu testamento .o vento encarregar.se.á
de as encaminhar ou de as deitar no
lixo que se amontoa sobre os dilates da
escrita a vermelho onde me banho em fúria
.os vermes esgotam.me e as minhas mãos
deixam.se quedar entre o frio e o calor que
escorre sobre um antigo mata.borrão
.tudo se compromete e o sorriso de uma outra
mulher de nome igual ao meu perde.se na
conjuntura que me arrefece os miolos .quedam.se
os olhos e as línguas mordazes vestem.me no cinzento
de um tempo outro
.não digo não ao não mas não me visto de sim apenas
para agradar a um corpo que não se cola ao meu na
arte de desagravar .move.se lento o meu olhar quando
deslizo sobre opalinas coberta por grandes toalhas que
mais não são do que cidades abertas aos
espelhos que a minha mente desmente
.sob a água partem os meus sonhos quando quero dormir e
não posso porque apenas me restam as distâncias que
inventei contigo
.o meu corpo aborrece.se e
as palavras secam.se cosidas no desbarato da língua que
não sei se é minha se tua quando me volto a contagiar
.sei que não te toco sei que não me tocas mas não sei
nem quero saber se nos meus ouvidos apodrecem as
teclas ou se os alfarrábios tingem o silêncio e me toldam
a visão

.Goethe atem.se na evidência da prescrição!




*****


citação apócrifa


voa raso o choro do pássaro

cujas asas pousam devagar e
o grito se tem aquém do bando
.um torvelinho manso sobrevoa o ocaso
e detem.se no abraço de um a manh'ser
diferente
igual talvez ao temor da ave que não se sabe
acoitar ao relento
.esqueceu o ninho dos outros anos quando
as crias debandaram rentes ao porvir
indiferentes aos bravos que se afoitavam em
novos voos
.um pouco de
cor prevaleceu na tela do pintor que ousou
retocá.lo inserindo no rodapé dos acordos
pré.estabelecidos a teia dos consagrados
.os niilistas ( então ) quiseram.se sós tendo por
fundo a ausência dos sempre presentes
preservando.se para verdades mais
audazes
.o sortilégio da mistificação reinscreveu.os
numa aleivosia comum onde
a imortalidade se tem por adquirida à custa de
um sorriso atirado à parcimónia
.temerato
o pássaro cujas penas resistem
aos audazes golpes de asa
oblitera a tela
sem pedir licença ao editor porque

se Deus está morto ,então tudo é permitido”*
__________________________________________________
* Dostoiévski, in Os Irmãos Karamázov(?)



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GABRIELA ROCHA MARTINS - SINCERIDADE E RESSONÂNCIAS – A REINVENÇÃO DA POESIA

A poesia é um acto de criação solitário, de silêncios, de debate íntimo e de íntimas interrogações, de exposição inquiridora, no sentido distanciador e brechtiano; uma tentativa de reconduzir o pensamento criativo, osmose sensorial e crítica, ao que o marxismo entendia ser o homem total. A interrogação permanente faz parte do jogo dialéctico entre autor e o leitor cúmplice. O autor interroga-se, interrogando o outro; envolvendo o leitor nas contingências das máscaras discursivas e dos processos criativos. O hábil artífice deste mecanismo de exposição/introspecção era o poeta Armindo Rodrigues, ao qual Saramago chamou “o poeta perguntador”. A este universo, a estes traços da subjectividade dialogal, pertence a poesia de Gabriela Rocha Martins e este as luvas de um aprendiz (in)conformista .em trânsito. Logo pelo título que nos convoca para esse exercício da aprendizagem a um tempo contínua e fragmentada, em trânsito para o devir e para a descoberta (de si, dos outros, com os outros); e logo a partir de tão frágil e evanescente matéria como a das palavras, sobretudo quando vertidas, com corajosa sageza, no corpo do poema.
Se dizemos que a poesia de Gabriela Rocha Martins tem universos afins, atem-se a uma modernidade conceptual que, apesar de o ser, de autonomamente se afirmar, contém ressonâncias em outros momentos compatíveis com essa abordagem do poema e das suas intrínsecas recorrências, vibrações de outras confinantes estéticas e metafísicas – a solidão em António Nobre mas, igualmente, o sentido do vazio existencial em Ramos Rosa, ou a secura habitada (essa emoção gradeada) de uma Irene Lisboa -, dado que o poeta se recolhe para pensar, estua nesse limbo, nessa orgânica suspensão porque é preciso devolver a mudez ao silêncio.
Este livro é uma extensa, permanente e extasiada reflexão dobre a arte poética, ou seja, sobre a capacidade de ainda hoje, e face às derivas, ao caos da contemporaneidade, ser possível urdir as palavras com vagar, tomar-lhes o peso, a exasperação exacta do acto criativo, e retomar as fontes, regressar à memória enquanto ela sangra e ao silêncio que a voz reclama. Iniciar, com as voláteis ferramentas do acaso, esse duro ofício de aprendiz de feiticeiro, mezinha a mezinha, alquimia a alquimia até que os caminhos se desdobrem e neles, nesse chão de todos os mistérios, os passos retomem os azimutes perdidos. Deixemos, portanto, que o silêncio se incendei, que as palavras repousem para que possam flor/criança renascer.
A poesia de Gabriela Rocha Martins, a sua expressividade lexical, ancora no silêncio, mesmo quando, na convulsão do discurso, lhe parece imune; erige-se na vertigem das noites rumorosas, essas noites que exsudam os versos no delírio/dos corpos febris. Não sei se o Algarve, um Algarve outro, ancestral, mítico e árabe, o Algarve que a pena irónica e subtil de Manuel Teixeira Gomes nos revelou, ressoa nestes versos, nesta íntima forma de revelação, mas sei que é de corpos, de sol, de sal, do corpo íntimo, cativo das palavras que esta poesia se faz e nos açoita como vento breve sobre a pele nua. Como escreveu João Miguel Fernandes Jorge, o silêncio também termina em palavras, ou o silêncio também é música como disse John Cage.
Em Gabriela Martins, os mitos e as heranças poéticas servem para conduzir, lavrar o discurso metafórico, para os territórios dos imaginários ancestrais povoados por deuses e demónios, para a essência da escrita – e da inconformidade com a sua imanência. A palavra que ousa, que se afirma inconsonante com o real, que sobre ele age para/ desafiar/ nu/o mistério da criação, e em delírio é insubmissa, à revelia dos mortais, mesmo quando o seu território assenta na pesquisa dos seus próprios signos e se descobre imune aos sistemas de fidelidade poética como refere Bachelard para, dessa forma, melhor aferir o eco singular da voz.
há um fogo ardido que crepita na solidão de todas/as palavras a que o menino.homem acresce/-trago comigo a solidão do tempo para que uma/gota de orvalho alise a minha face e possa indicar/o regresso à tela onde me cravarão os pregos Os ritos vivem de silêncios, de recolhimento, de pose e de ficcionalidade, de silêncio vestido de uma breve palavra, e a palavra macula, fecunda e transfigura o silêncio, só a palavra abre, molda e rasga o silêncio mesmo quando o natal e a sua ritualização enche o espaço das solidões habitadas e um menino-deus prepara a eternidade efabular na pose de uma tela. Ou seja, tudo o que tece os nossos imaginários, mesmo os mais perenes, cabe na definição breve da palavra, mesmo quando um fogo ardido crepita no desamparo da sua solidão e cabe ao poeta revelar a gota de orvalho que, no delta de todos os rios, nos indique o caminho do retorno a casa. A poesia de Gabriela Martins vive centrada nesses envolventes temáticos: o silêncio, a angústia, a solidão, o desejo, o corpo e a construção do poema como espaço libertário, como imanação do sagrado.
A poesia portuguesa contemporânea caracteriza-se pela busca de elementos novos, nas múltiplas direcções que o sentido de modernidade ainda consegue estabelecer e permitir, embora a herança que lhe cabe venha ainda tutelada pela influência que Pessoa consegue manter, sobretudo através dos heterónimos Campos e Caeiro, sobre a linearidade do discurso poético indígena. De vozes autónomas, dado que o autor só existe quando assume o direito de alforria da sua singularidade, se faz hoje o texto poético, liberto de alguma ganga formal que a geração de 1950 introduziu na conceptualização dos imaginários e nos artifícios da linguagem.
Num tempo em que a literatura (e o cinema, o teatro, as artes plásticas) retoma um certo realismo urbano como fonte expressiva e estruturante do seu discurso, em que o texto poético se aproxima perigosamente da exposição factual, da imanência do olhar em volta, numa clara ruptura com o neo-romantismo que a geração de 1960/80 encenou, tentando uma introspectiva e sensorial ligação ao real, numa abordagem atrelada ao eu pessoano fortemente individualizada, afastando-se desse modo do colectivo e moralizado olhar neo-realista, aproximando a criação poética daquilo a que Barthes chamava “o grau zero da escrita”, ou seja, da experimentação, da busca e da interrogação criativas – espaço em que todas as afirmações se estabelecem e são, na sua diversidade, possíveis e mistificadoras. Num tempo assim, dizia, é estimulante verificarmos existirem vozes que sobrelevam esse espaço de retorno e se expressam em caminhos outros, que penetram outras derivantes da fala, do lirismo, que percorrem a obscura matriz das palavras sem cuidar de pedir licença para entrar nesse universo dos sentidos, da busca da palavra exacta, do seu eco e assombro – e da ênfase dos núcleos significativos no simbólico que toda a poesia configura.
Não sei se a poesia, para ganhar lastro, precisa de um atento leitor. A poesia, pela descontinuidade discursiva, apela decartianamente aos sentidos e só, a posteriori, a uma distanciadora racionalidade emotiva a que releva os sinais da serenidade, do que tarda (o silêncio) antes da plenitude do seu efeito no leitor ou da gargalhada ou o asco (que) oscilam entre o grotesco e o temível. as luvas de um aprendiz busca, na serenidade do seu vórtice expressivo, um espaço outro e mais vasto de singularidades e, quiçá, de liberdade, de audácia, mesmo com a ternura nas mãos poder filha da terra, despir-se da matéria e ficar nua e inverter o voo das estrelas e quedar-se no canto/dos pássaros perdidos em folhas e folhas de/puro espanto. Temos, assim, uma poética que se revê na pulsão mais lídima dos sentidos que, nostálgica, se sente presa a uma memória que persiste, que queima e impede o grito que a liberte, as asas que a transportem ao espanto, aos paraísos perdidos, ao sentido das coisas, ao corpo oculto das fontes, à autenticidade e à verdade, quando o jogo metafórico ilide a inautenticidade e a inverdade que o seu próprio discurso expressa – a vertigem da incomunicabilidade que faz com que o poeta guarde os poemas no cofre forte da memória.
A linguagem é, em Gabriela Martins, mais que a figuração do real; uma contínua – e experimental – procura, desdobramento, dos símbolos que a constituem. E uma descida, por vezes provocatória, aos infernos do ser, forma última do poeta se questionar enquanto fazedor de fábulas, de se mostrar/ocultar (num processo puramente pessoano) nesse poliédrico espelho de múltiplos reflexos; de, sendo aprendiz em trânsito, desenvolver a mestria de uma pessoalíssima oficina da arte poética – e do seu esconjuro e impotência, a rasar pelos versos de um poeta ( Mário Sá-Carneiro) que desistiu dessa busca: sonhos ladrões de sonhos e/andamos de ganho em ganho em/demanda de um pouco mais de sol .
A poesia é o acto mais fecundo dos modos de nos darmos ao outro, de diálogo íntimo, no sentido socrático, com o outro, mesmo que ocasional leitor e em trânsito. Estão lá, no poema, as nossas íntimas ressonâncias, os murmúrios altos e os compungidos silêncios. Uma fala que, na dialéctica obscura dos seus signos, se tem o outro como alvo, como sentido último da exposição, ao expor-se se recupera mais lúcida e substantiva. Escrever deixa, assim, de ser um acto de isolamento, de mudez face ao silêncio, para, transpondo a solidão desse mesmo acto, se volver diálogo com o outro e nele, através da palavra, se reflectir regressando à sua matricialidade, ao jogo elementar, à ironia do fingimento provocatório (lê-se a palavra FMI perdão FIM), à busca da verdade possível, só possível quando se perde o sentido das palavras. O que não é o caso.
Dispamos a ganga puída da hiperbólica louvaminha, tão lusa e curvada, e sejamos enxutos e simples num raro aceno de júbilo: partindo do pressuposto de Eugenio Montale de que tudo está escrito, a poesia de Gabriela Martins tenta – e consegue – a originalidade de impor uma voz que, afirmando-se, se busca e tenta abrir clareiras na floresta de vozes afins, aquelas que a sua poesia, em reverso límpido, transporta em sua transparente dimensão textual. E deixa-nos deslumbrados. perplexos. capazes apenas de a ler. de a adobar com jeito e com ternura. de a comer, que é para isso, ó sub-alimentados dos abismos, que a poesia, como a Natália Correia escreveu, - esta poesia – se fez verso. comamo-la sem luvas para que esta poesia, em sua deriva insubmissa, se possa reinventar/numa enorme gargalhada.


DOMINGOS LOBO




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as luvas de um aprendiz (in)conformista

.em trânsito

 
gabriela rocha martins