Arade - um corpo aberto à Poesia




II - sabe a rio o galopar do silêncio




ternos abraços lançam-se sob a nudez
do crepúsculo
*

crus são os brados

.másculos e ambarinos os cantos dos
alaúdes .as garças sublevam-se e
no horizonte
traçam-se matizes de batalhas outras
*

há mel e tranças no teu corpo mouro
*

como frágeis donzelas são de teu nome
volteios bravios que à noite recolhem
em
*

sílabas perfeitas do meu evocar
a sul .espadas que o vento consente
*

em Al-Xaradjib
silêncio maior

onde se esconde o Levante 



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I - Arade – um corpo aberto à Poesia



a minha cidade tem um rio
onde as tardes namoram os cais

.
.
.

não é triste nem alegre o rio
da minha cidade
inscrito num corpo poema

o rio da minha cidade
canta o levante em versos de Al-Mutamid e
o crescente esmorece em crepúsculo
enfeitiçado por Ibn Ammar


[ há ecos de lirismo febril no
rio da minha cidade ]


o rio da minha cidade matiza desejos
ao anoitecer quando as donzelas enfeitadas
de subtis adornos dançam ao som dos
alaúdes e os seus corpos talismãs descansam
enamorados na volúpia de um olhar fugidio


[ o rio da minha cidade rememora Allah e o
Palácio das Varandas ]


nas margens do rio da minha cidade
os amantes embriagados bebem o néctar
da bravura mas gráceis e sedutores colhemem
ternos versos os frutos ambivalentes do amor


[ o rio da minha cidade ainda hoje
é um eco aberto à Poesia ]