confissão a mais
confesso-me uma apóstata uma predadora uma inconstância constante que se alapa a qualquer corpo e venho do mar cansada do cansaço abrigado nas escamas douradas que a sereia coroada miss universo lançou ao chão do hotel em noite de eleição .confesso-me o mau cheiro do abcesso do anjo Gabriel quando se aprestou à boa nova ou a ausência do dogma guardado na despedida da virgem acasalada .confesso-me ainda mater do deus menino e coifo-o de toucados azuis e visto-o de brocados rosa antes de exigir substantiva e independente a absolvição como se a descrição agnóstica me acendesse a noite tentando racionalizar a revelação .estendo-a ao largo cada vez mais largo numa indecorosa parcimónia de palavras rendida ao silêncio em que me confesso
o atropelo ao sono .o abraço à morte
confissão a menos
( do gato kafka )
mea culpa
mea maxima culpa
[ uma memória apagada na imobilidade
do gato
kafka ]
devagar
desfaz-se em
água
ao ritmo merencório do
desapego
confissão a mais ou menos
a ti Belzebu me confesso
sou um rio solto na vertigem de um ai ou de um gesto que se têm livres
sou o a mar onde o oceano se perde prenhe de algas vermelhas
sou o horizonte e colho a vaga rente à rebentação
sou a página breve de segredos vários
sou o sarcasmo imolado ao demo
e
regurgito em verso
o feudo sem dignitários