tu não és apenas um nome




os silêncios das árvores adormecem
sob a drenagem dos afagos





*
moldo à janela oclusa das pálpebras
lastro de musgo onomástico
textos
sílabas
palavras
lugares
o tempo
numa litania ínvia de versos

*
minha irmã
em exílio a norte

*
escudam-se romances
diários
poemas
sonatinas para Bach
estranhas núpcias
envoltos nas teclas de uma velha Remington


*
e tu não és



( inédito ,in“a tosse dos damasqueiros”, homenagem a Maria Gabriela Llansol )









CONVITE - Sessão de apresentação - SINAPIS editores






CONVITE

dia 21 de Fevereiro
16h00
Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro
Apresentação da Obra por Ângelo Rodrigues
Performance musical e poética
pelo Grupo "O Seu Contrário"




Colectânea ENIGMA(S)




saúda-se a preto a revolta dos castos


reverências a mais .os troncos torcidos
e os pés que se arrastam
.a pele que se fecha .o sangue que recusa
dos cabotinos a farsa
*

exigem silêncios

entre os que vacilam e os que apóstatas
seguem o rebanho ao redil
*

senhores o mestre ordena .um resto de
resistência .a face ergue-se .o queixo
levanta-se num lastro de medo

sem dignidade
*

exige-se o compasso
entre o braço que se ergue
e a mão que se fecha

a paleta de cores saúda o escárnio




escrevo com os olhos o mitema da catábase*


esquálidas as formas esperam-nos
do outro lado do mundo

Estige e Aqueronte buscam
no dízimo o compromisso assumido
com Hades

.subjaz o fogo
*

o ritmo das esperas ofusca o irreverente
tornado reverência e

a barca de Caronte aguarda
nas trevas os corpos chegados para
tomar
dos passantes a [re]volta

a foz exige o eco .o corpo o óbolo .dois
mundos onde o remar queda-se
aquém
*

Psiquê e Orfeu
travam o duelo com as sombras
além

_________________________________________

*ínfimo pormenor da mitologia




após a tempestade a bonança


escrevo poema arrimo de barco
.reverso de varina na boca do peixe

apronta-se o leme

nome de mulher inscrito na onda
.o mar recua .um vento danado .do
medo se cobre o luto e as vestes
*

assombro nos gestos .os barcos partidos
na praia chegados os gritos e os brados
*

mar fora ou adentro .bravo e irado
.nos rostos o pranto .nos olhos o canto
a revolta sofrida

submete-se o trilho dos barcos que
voltam .dos gritos e ais há risos abraços
beijos a mais

um vento que cala




em dia de São Martinho


madrugam quimeras em lugares de culto
sob o espanto da verve que se abre ao largo
.rasgam-se demandos .tecem-se abrolhos .rescaldos
selvagens

nas fagulhas breves

*
acendem-se os pregões na cadência do fogo


*
abrem-se os frutos .fecham-se as bocas tarde
no dia .a chama veicula o gosto a maduro .um recorte
de jornal ou o obituário .desgostos nas mãos

assoladas no frio

*
do silêncio o estigma .recados deixados de
ano para ano .a fome enganada no assobio do vento

o acordeão de um velho aquecido na brasa



Gabriela Rocha Martins,
Maio 2014



1 de Fevereiro de 2015







o abraço florido de um Amigo que nunca esquece este dia