3ª Recensão a "Inquietação"

Agora, vamos a coisas ainda mais importantes ! O livro com a sua participação que tão generosamente me enviou. Como lhe disse, não tinha tido ainda vagar para o apreciar sem interrupções e de espírito livre. Agora, claro, também tenho a apreciação feita pelo Mota, que veio aclarar algumas coisas no meu espírito, mas não me influenciou. Assim, "A 5.ª Sinfonia de Malher" e " O Terceiro Elemento" , a ele, parece que lhe sugerem sinopses para filmes ; a mim, sugeriram-me esboços para um mais longo fôlego... Muitos escritores assim fizeram e fazem, e esses esboços são sempre muito ricos de concentração espacio-temporal, causal e emocional, como aqui acontece. Fui "obrigada" a fazer longo trabalho de análise, para apresentação na faculdade, sobre um livro-esboço destes, de Montaigne, e compreendi que o mais difícil era a concentração de tudo, nesse esboço. Os espaços em branco, sugerindo as pausas de pontuação, a criação de um espaço/clima cúmplice ( o calor ), sugerem, criando o ambiente para uma narrativa de sugestão, de narrativa aberta. São tópicos que podem vir a desenvolver-se em romance. Mas, assim, sugestões, esboços sugestivos dando lugar à fantasmação, são muito mais fortes ! A " 5.ª sinfonia de Beethoven" é, para mim também, um caso diferente : é um esboço contaminado pela energia heróica e fantástica da música que poderia resultar num belo romance de personagem ! Aliás, ele é um romance de personagem com toda a riqueza de complexidade do ser que, com essa abertura do cinzento ao imaginário, procura a justificação para o acto que leva à atitude única que merece o estudo de uma personagem ! A capacidade de fugir ao banal, à rotina, para experimentar o prazer do proíbido, do que está para além do horizonte de espera ! Para o Mota, só a animação de um filme comporta aquilo que ele chama de mundo onírico/surreal. Para mim, isso é a criação de um romance de personagem - que só permite uma personagem com essas características, não um ser banal e condicionado pela mediocridade . É, no fim, a mesma coisa. E é bonito . Quanto ao poema - de que gostei muito ! - nada sugere de imaginado, de cinzento ( a mim, claro ! ). É antes a recriação de uma realidade, de uma verdade, mas é muito importante, muito bom, verbalizá-la. Afinal, é o somatório da nossa vida. Muito obrigada por escrever e, sobretudo por partilhar comigo os seus escritos, minha Amiga.
Quanto ao livro, no seu conjunto, partilho a opinião do Mota, mas quem sou eu para comentar?
-Fernanda Sal Monteiro