arte in vitro



Revista Litterarius

"Quero começar por dizer que nenhum de nós é versado nas artes da poesia ,prosa, drama ou ensaio.
Todavia, este texto tem a sua génese num convite...
...Alguém se auto convidou para nos apresentar uma ideia. Foi o primeiro contacto que tivemos com o Sol, a Lua, o Sonho e a Utopia!
E a ideia surgiu como uma verdadeira Utopia de alguém que nos disse -"isto nunca foi feito. Poderemos ser nós, em conjunto, a fazê-lo! E da Utopia passou-se ao Sonho.
Entendemos desde logo que poderíamos realizar o Sonho, e se bem o entendemos, melhor o fizemos, aceitando que o Crédito Agrícola de Messines patrocinasse esse Sonho. E o Sonho desenvolveu-se. Cresceu, trabalhou, escreveu-se, apagou-se, rasgou-se num frenesim de raiva, até que ,depois de muitas noites de trabalho e árdua criação, se concretizou numa noite de Lua. Seria cheia? Seria quarto minguante? Seria?... mas era Lua, certamente!
Finalmente, brilhou. Correu para a Gráfica e cresceu em papel branco como a Lua. Brotou. Espraiou-se o Sonho, realizando e dando forma viva à Utopia, surgindo à luz do dia, neste oito de Março, que tanto nos diz, neste dia em que o Sol brilha.
Quero terminar por reafirmar que nenhum de nós é versado nas artes da poesia, prosa, drama ou ensaio, mas deu-nos um enorme prazer proporcionar esta obra belíssima que fala do SOL, da LUA, do SONHO, da UTOPIA."

( direcção da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de São Bartolomeu de Messines )




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I
toccata a quatro mãos...
...em fuga


existe o sol e o luar,
a sombra dos poetas e os seus reflexos ,nos sonhos?
fora ,os riscos da rotina .de viver
é necessário acordar .levantar e começar um novo dia
bocejo
9h00
- come o nosso poema ,mas lava os dentes .como medida de precaução – dizes-me ,à laia de despedida
atiro um beijo ,agarro o casaco ,pego nas chaves do carro e desço as escadas a correr .faz frio .o carro não pega
vou a pé ,tropeçando em coisas e pessoas feias
10h00
subo as escadas devagar .bom dia .sento-me à secretária .ligo o computador
sou um autómato .sou um robot .enter!
devoro palavras e risos durante o dia
18h30
saio
lembro-me que não trouxe o carro e amaldiçoo as coisas e as pessoas feias
sou um autómato .sou um robot .enter!
quem distingue de mim o outro lado de mim?
2h01
em cima da cama o livro dos nossos poemas .os de hoje e os do futuro
adormeço .onde se projectam as sombras?

sonho a preto e branco
sem legendas


II
thriller em mãos...
...dúplices


sem legendas
recomeço o thriller que o cineasta deixou esquecido no canto esquerdo de um qualquer quarto
tinha de ser aquele quarto .aquele canto
era verão. foi inverno
não sei filmar – reflicto – certa de que
os robots ,mimeticamente ,reproduzem os gestos para que são programados...
... e o meu servidor insiste no mesmo relatório de erros
o conflito entre o tudo e o nada
o nada de me saber aquém dos limites
o tudo de te querer para além do nada
temporária confusão
inserida no livro de poemas jamais escrito
no meu presente............. no teu futuro
no thriller lê-se a palavra FIM

( subsiste ,obsessivamente
,a dúvida )

o nada e o tudo
acordo
agarro as chaves do carro
desço as escadas a correr e
atiro com a porta.................... ao sair
vivo a vida
e sorrio
ao
sol
meu
astro
maior