recensão de José Luís Outono a "as luvas de um aprendiz (in)conformista"




 
 
 
 
 
li o teu livro, como apetite sedutor de um testemunho...que vive a escrita.
Li, e senti já alguns comentários, por exemplo, o do António Ganhão, numa recensão, onde te acusa de "sublime"...e aplaudo.
Por isso não resisti...e, com a devida vénia ( entende-o como respeito e admiração de um inconformista...também), copio o meu comentário ao trabalho do "Toninho", como carinhosamente apelidas, mas homem ecléctico, que também admiro, na sua lavra de escritor:

…”roubaste-me as palavras”…que queria tecer em comentário. Um livro fascinante, inquietante e amante…de quem ousa o amanhã, com a coragem d’hoje!
Gostei do que escreveste da nossa amiga…aliás “só o poderias fazer” na justeza de uma alma criativa, como a Gabriela Rocha Martins."

Escusado será dizer, que espero mais inquietudes e inconformismos, da tua pena informal e directa!
Beijinho à amiga...que um dia me disse ( em Silves...lembras-te? ): gosto do que escreves e da forma como o apuras...

É este inconformismo, com o gostar pessoal, que admiro em ti. O constante apurar de uma insatisfação sempre inquietante , porque louca de lógica!
José Luís Outono ,in facebook



recensão de António Ganhão a "as luvas de um aprendiz (in)conformista




as luvas de um aprendiz (in)conformista, de Gabriela Rocha Martins
Publicado em 23/12/2012 ,por antonio ganhão

O poema nasce nas páginas deste livro como um ato de insubordinação. É a resposta a essa “fome de escrever”, a esses “caudais de lava que escorrem sobre as barrigas de textos prontos à desova” dando corpo ao sentido de mortalha com que o papel acolhe o texto.

-o funeral dos sonhos
 a ambiguidade
 adensa.se e nos rostos
 avulsos
 há um resfolegar
 quebrado
 que
 se insinua
 na memória das folhas
 .se
 ao menos fosse possível
 reciclar a página
 retocar a maquilhagem                     ou
 avançar para dentro de um tempo novo?

O poema explora a esquadria improvável da página, roubando-lhe a pontuação, fugindo-lhe à sua forma clássica. O espaço de um parágrafo surge a meio de uma linha, servindo-lhe de quebra ao verso. As frases terminam num ponto final para que a frase seguinte comece a partir desse ponto, arrastando-o consigo para o seu início. O poema cola-se à página de uma forma plástica, como se fosse a obra artesanal de um pintor. Depositado em camadas, escrito com uma espátula, sofrendo um processo de desconstrução, de recorte e colagem. Uma impressão visual que não se dissocia da sua leitura, que nos provoca e desafia.

à revelia dos mortais
sangra o verbo

e um deus louco e quase cego
detém-se mastigando um resto de absoluto

Não ouso esquadrinhar em extensão o dizer do poeta, detenho-me à porta do seu indizível. Encontro neste livro o inconformismo e o convite à aprendizagem, à sua errância nas nossas vidas. Entre o zangado e o irónico, sempre provocadora, Gabriela Rocha Martins, deixa-nos uma reflexão, um olhar lento e penetrante sobre o significado das coisas insignificantes, sem nunca lhes conferir um registo definitivo, evitando assim o risco de se transformar numa lagartixa.

hoje acordei poeta
.coloquei entre as minhas mãos milhares de caracteres e
 misturei.os à revelia do verbo
 .triturei

Vivemos tempos que não são mais do que um acrescento esconso aos sonhos que nos roubaram. Inventámos palavras novas para este tempo, palavras redutoras, sem métrica nem salvação. Palavras de claudicar e (no meu entender) obscenas.

O que nos resta? Ao poeta, sempre o seu caminho.

.amanhã serei um vagamundo
 .percorrerei novos poemas
 

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Uma Resposta a "as luvas de um aprendiz (in)conformista", de Gabriela Rocha Martins

José Luís Outono diz:
 24/12/2012 ás 16:45

…”roubaste-me as palavras”…que queria tecer em comentário. Um livro fascinante, inquietante e amante…de quem ousa o amanhã, com a coragem d’hoje!
 Gostei do que escreveste da nossa amiga…aliás “só o poderias fazer” na justeza de uma alma criativa, como a Gabriela Rocha Martins.


António Ganhão ,in um dia serei apenas este verso que vos deixo