a primeira vez que soube o que era um poema foi num natal. deram-me uma boneca dei-lhe banho. desfez-se em mil pedaços de papel na água gravei a minha primeira lágrima só mais tarde compreendi que o poema é uma mentira que se chora verdade na alma
-para o António Ganhão, algumas palavras sentidas ,escritas e ditas ao en tard'ser
serei ,neste fim de tarde frio ,de fim de outono ou quase princípio de inverno ,por razões diversas ,brevíssima ,neste meu falar sobre o António Ganhão e o seu livro “A Desilusão de Judas” .sê.lo.ei, primeiro ,porque coube e muito bem ,ao José Luís Outono apresentar a obra .mas ,eu fui uma das suas primeiras leitoras e o leitor ,antes de mais ,escreve para que seja possível .o quê?
a leitura ,claro!....
e será que eu ,rendida leitora de “A Desilusão de Judas” ,de António Ganhão ,conseguirei premeditar todos os nomes de depois da morte? sim ,porque ,para além da narrativa ,há ,sempre ,um pouco de morte em todos os que escrevem e em todos os que lêem ,sem que nada de mórbido prevaleça nesta minha afirmação .pelo contrário ,é no instante preciso em que o pouco do António que morre em “A Desilusão de Judas” ,que eu – sua leitora – o absorvo ,para ,depois o reEscrever ,perfeitamente ciente que as suas palavras ,arquivadas num pequeno bloco de notas ,de capa preta ,me foram servidas como um bálsamo ,um vinho raro ,intenso ,frutado e ,de quando em vez ,irado .momentos houve em que ,plenamente consciente ,deixei “o cálice tombar vazio sobre a mesa” ( Capítulo I ,p. 11 ) ,a fim de regressar a essa esquiva felicidade que a leitura de um bom livro ,sempre ,me reserva
é ,por isso ,António ,que teimo em escrever.te ,apenas ,um nada mais ,para ,logo de seguida , me quedar ao silêncio ,já que ”A Desilusão de Judas” foi ,é e será ,o instante absoluto – irrepetível – do reencontro fugaz com as coisas boas da vida: a essência.
assim ,à laia de cumplicidade ( pelo dito e não dito ) ,aqui fica o desaforo -
( Da esquerda para a direita - Arménio Vasconcelos ,Rui Matos ,da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais de Leiria ,e ,Adélio Amaro ,da Folheto & Edições ,Lda )
-às vezes sou um sim às vezes não 8 fevereiro 2011
sob as arcadas de pedra da catedral de Saint Denis desafiam.se os tumultos circundando o teu corpo oscilam os meus olhos à procura de um vulto mas a densidade própria da matéria dissipa.se no zimbro que envolve as gárgulas levas.me na confusão do cigarro que não fumas como se o rasto e o cheiro fossem um pouco mais de ti........ solto........ trazes.me o silêncio dos búzios por entre os andaimes da chuva que teima em cair vasculhando a manhã........ três pingos molham o meu rosto........ recolho.os como restos de outras névoas e no silêncio incorpóreo que te resguarda retenho.me num outro templo ou nas pinceladas........ brevíssimas........ que ouso sobre a tela às vezes deixo.te fluir pela página virgem que se detém a meu lado outras solto.te por entre as víboras que adormecem junto à fonte........ sincera mente não sei porque te habito entre os crivos da terra e os sulcos das marés não sei........ mas sei porque te exibo em tatuagem
ousam.se dos amantes as memórias
**********
***
-sem explicação aparente 29 março 2011
hoje decido.me pela não abertura da carta
fazê.lo seria confundir um desejo muito forte de não presença com a necessidade de dizer sim ao pessimismo que me assiste qual anátema de algo que não desejo ler........ muito menos antever sei que o meu córtex cerebral esquerdo riscou relações com o direito impossibilitando que o ninho dos pássaros azuis brancos........ ou de plumagem vária se confunda com o endereço inscrito do mesmo modo que não me imagino abrindo e fechando envelopes como uma mera máquina trituradora de papéis usados gostaria........ isso sim........ de apostar um selo sob as letras imaginadas em desvario porquanto lambidas demais mas decido.me pela não leitura - ateimo - porque fazê.lo seria assumir.me como a meretriz do verbo o assassino da escrita ou
o chulo da palavra que se balda no parágrafo seguinte
ousam.se os cânticos........ as danças - a polca o minueto a quadrilha a valsa - como passagens fotográficas de divas de outras eras........ exaltações de tempos onde o verbo se construiu em rastos tão longevos como a ampulheta que ainda hoje foi ontem........ nos sonhos prescritos há caudais de água e naufrágios de barcos prontos a azular tolhados pelas linhas que no horizonte fazem tábua rasa........ um minúsculo aracnídeo oscila entre o regresso ao nada que a mente do poeta fabulou e o fruto maduro que medra na haste por onde deslizam as vozes que clamam vingança
-serve.se fria
em pequeníssimas doses que circulam ímpias no espaço dividido entre o muito o pouco e o nada como se este se antecipasse ao ritmo do vento semeado a esmo neste refúgio incómodo que se antecipa ao silêncio ao meu silêncio........ ensaio de raiva fonte de outono ou alvoroço de inverno........ alimentados pelo tumulto da lava
queda.se o verbo travestido em âmbar
-que sabeis vós da minha indiferença?
********** ***
-retratos de uma cidade 25 janeiro 2011
centímetro a centímetro engrossam as palavras........ breves........ átonas e dissonantes presas a caudais de lava que escorrem sobre as barrigas de textos prontos à desova........ são peixes mortos que engrossam as correntes ou poluem as margens de monografias prenhes de palavras vãs esgotam.se as iluminuras e as vestes dos lobos que em alcateia descem sobre a cidade abocanhando o frio da noite
há esgares de morte nos passeios e
os sem abrigo deixam rastos de sangue nas traseiras das casas por onde escorrem fios de água........ rubra........ como a baba que des ce pelos meus textos vejo.os encolhidos no silêncio........ ou encobertos num vão de escada onde o poema incompleto absorve o abandono........ impressos na folha de jornal que lhes serve de mortalha
acresço uma linha aos fragmentos nocturnos e
três degraus........ ao fumo........ que lhes reserva a memória
Ser o mar, o que agora lambe a tua mão, que se balança no arco de teu braço; tocar dócil os teus dedos, levar-me para dentro dos teus ciprestes dourados.
Não há desgosto, nenhum motivo, é um pretexto, uma provocação, quero ser o mar sobre a rocha que mais perto estivesse de ti, para cobrir-me de chuva com sabor a baixel e cair sobre os teus risos que acorrem ao seu abrigo.
Poder sentir-te uma vez mais, como outrora, quando nas nossas bocas nos exilávamos, muito ocultos; regressar à insónia do desejo, morada de suspiros, muito juntos.
E se o teu passeio esculpido pelo meu tacto salobre se retirasse, claro está, de brisa me vestiria para ir preso à tua mão, e o meu corpo, então, etéreo, em silêncio, à saga dos teus dias, de modo algum suscitasse dúvidas sobre quem te acompanhava, nunca.
traducido al portugués por la Embaixada de Portugal em Madrid (Asuntos Culturales)
poema dito por mim e que incorpora o poemário ( livro e CD ) do poeta catalão Juan Carlos García Hoyuelos .editado em 2011 ,em Burgos . . .
Não, Mário, não escrevo epicédio porque para mim tu não morreste escrevo ode para cantar tua memória da forma mais solene e mais sublime que eu souber Nem Píndaro, Alceu ou Safo ou Esculápio e Horácio te cantariam melhor pois nunca morrerás enquanto eu viver meu deserdado da sorte e da vida e agora deserdado do Ser Estou cada vez mais órfão do mundo e agora sem ti meu mestre paulistano com quem falarei sobre os segredos da portuguesa língua? Do nosso amor comum? Após uma conferência minha um universitário brasiliero contou-me do sucedido estivera no teu velório O quê? Tu morreste, Mário? Assim, sem me dizer nada? O teu blogue provou à saciedade não sei se a alguma sociedade que terás uma quota-parte de eternidade no meu coração meu irmão longínquo das terras do café do ABC paulista e do baião de dois feijão com arroz arroz com feijão meu especialista de Seu Machadão E com quem estarão teus filhos berlinenses ou outros? com suas mães certamente Tempus fugit e nós ficamos por aqui e para aqui aparvalhados Recordo tua sorte junto das mullheres jovens com teu charme malicioso teu ar sereno e bondoso tua sabedoria, meu mestre! Gostavas do Alentejo das rendas meu paulista baiano! Lamento o bacalhu prometido que nunca chegou ao prato Puxa a vida, Mário, telefonei-te e já ninguém responde Se ao menos tivesses sido presidente do teu País (tal como teu aluno Lula) O mundo mudaria espantado contigo aos microfones das Nações Desunidas Mas, pronto, Mário, foste embora sem me dizer nada, bicho. E agora que já és cinza e a vida uma foda com PH a que porto aportarão nossas conversas infinitas? O amor da minha vida que traí e não traí estás a ver, Mário, o conceito de realismo o que é ficção ou realidade o amor da minha vida, dizia-te, tornou-se inatingível na Lisboa que tu amavas. E quando te morreu aquele filho no Rio? E eu sem saber como te consolar, meu irmão? Já lá vão nao sei quantos dias do teu passamento e eu aqui ando sem ti só contigo em pensamento meu director de campanhas viagens, comícios, encontros quilometragem, cidades, e agora, onde estamos agora, Mário?
Luciano Caetano da Rosa ( Colónia, 19 de Fevereiro de 2011 )